Dinheiro do Povo

Bolsonarista Filipe Barros usou verba pública para articular contra Alexandre de Moraes

Deputado bolsonarista articulou sanções nos EUA com Eduardo Bolsonaro e gastou R$ 19 mil da Câmara em missão antidemocrática

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Washington, EUA – 4 de junho de 2025 – O deputado Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, viajou aos Estados Unidos entre 11 e 15 de maio com verba pública para cumprir uma agenda que, na prática, serviu para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao lado de Eduardo Bolsonaro, Barros se reuniu com congressistas norte-americanos para pressionar pela aplicação da Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, que conduz investigações sobre os golpistas do 8 de janeiro.

A viagem custou R$ 19,1 mil em passagens e diárias bancadas pela Câmara dos Deputados. No papel, a missão era destinada a encontros com a comunidade brasileira. Na prática, tratou-se de uma operação de lobby internacional bolsonarista com o objetivo explícito de desestabilizar as instituições democráticas brasileiras.


Missão oficial ou sabotagem judicial?

Apesar do disfarce institucional, Filipe Barros teve encontros com nomes da extrema direita norte-americana, como o deputado Cory Mills, que defende sanções unilaterais contra autoridades estrangeiras. A presença de Eduardo Bolsonaro na reunião reforça a suspeita de atuação coordenada entre parlamentares brasileiros e agentes estrangeiros para constranger o STF e alimentar a retórica de perseguição que sustenta o discurso bolsonarista.

Após a viagem, Mills levou ao senador Marco Rubio preocupações sobre uma suposta “censura generalizada” no Brasil, discurso que ecoa as falas de Eduardo Bolsonaro nos EUA. Rubio, por sua vez, disse que o governo norte-americano estuda sanções contra Moraes: “há uma grande possibilidade de que isso aconteça”, afirmou.


Lei Magnitsky e o uso político do discurso de direitos humanos

A Lei Global Magnitsky, citada como instrumento para punir Alexandre de Moraes, é um mecanismo usado pelos EUA para aplicar sanções sem necessidade de julgamento, com base em alegações de violações de direitos humanos. Criada para responder a casos extremos de repressão estatal, a lei já foi aplicada a autoridades da Rússia, Hong Kong e Turquia.

No entanto, a tentativa de invocá-la contra um ministro da Suprema Corte de um país democrático escancara o uso seletivo e politizado dos direitos humanos por parte da ultradireita internacional — que ignora torturas, execuções e censura reais em regimes aliados, mas ataca juízes por combaterem golpes de Estado.


Eduardo Bolsonaro sob investigação por articulação externa

Eduardo Bolsonaro, que agora vive nos EUA, é investigado pelo STF por suspeita de organizar ataques ao Judiciário a partir do exterior. Em declarações públicas, admitiu pressionar o governo norte-americano para que interfira nas decisões de tribunais brasileiros, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal.

A ofensiva internacional contra Alexandre de Moraes é parte dessa estratégia. A Procuradoria-Geral da República, por meio de Paulo Gonet, já trata o caso como possível tentativa de obstrução à Justiça. A base da denúncia foi uma representação do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), que apontou a existência de uma rede estruturada com o objetivo de sabotar o STF — composta por Eduardo e Jair Bolsonaro, Filipe Barros, Paulo Figueiredo e outros aliados da extrema direita.


Câmara apoia ação antidemocrática

Apesar da gravidade da articulação, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara — presidida por Filipe Barros — aprovou uma moção de apoio a Eduardo Bolsonaro logo após a abertura da investigação, em 27 de maio. Durante a sessão, Barros minimizou os riscos institucionais e tentou dissociar as sanções contra Moraes do Brasil como nação. A manobra política escancara o uso do Legislativo brasileiro como trincheira bolsonarista em guerra contra o Judiciário.

A alegação de “violações de direitos humanos” no Brasil por parte de Barros e Eduardo Bolsonaro busca inverter a lógica institucional: os que atentaram contra a democracia agora tentam se passar por vítimas de opressão. O recurso à lei americana funciona como um atalho para deslegitimar o sistema de Justiça brasileiro e abrir portas a interferências externas.


O lobby internacional da extrema direita

A visita de Barros incluiu ainda reuniões com parlamentares como Brian Mast, Chuck Edwards, John Moolenaar e Carlos Gimenez — todos alinhados ao trumpismo. Também se encontrou com Mike Benz, ex-funcionário do Departamento de Estado e atual propagandista da tese de “censura global progressista”. O roteiro sugere uma estratégia coordenada: usar estruturas formais do Congresso para impulsionar pautas golpistas sob o verniz de diplomacia.

A interlocução bolsonarista com figuras da ultradireita americana faz parte de uma articulação mais ampla: descredibilizar instituições internas, criar pânico moral e buscar respaldo internacional para uma agenda autoritária que perdeu espaço nas urnas, mas segue viva em operações subterrâneas.


O Carioca Esclarece

O que é a Lei Magnitsky?
É uma legislação dos EUA que permite sancionar estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos. As sanções incluem bloqueio de bens e restrições de entrada, sem processo judicial. A lei tem sido usada de forma geopolítica, inclusive contra inimigos estratégicos dos EUA.

Filipe Barros pode ser responsabilizado por essa viagem?
Sim. A utilização de verba pública para articular sanções contra instituições do próprio país pode configurar desvio de finalidade. Além disso, o uso de um cargo oficial para fins políticos pessoais ou ideológicos pode ser alvo de apuração ética e judicial.

O STF corre risco de sofrer sanções reais dos EUA?
É improvável. A decisão final depende do Departamento de Estado e da Casa Branca, que tendem a evitar confrontos diplomáticos com democracias aliadas. No entanto, o simples fato de haver lobby para isso já é um ataque à soberania nacional.

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