Los Angeles, EUA – 9.jun.2025 – A decisão de Donald Trump de enviar tropas federais para reprimir protestos contra a política de imigração em Los Angeles reacendeu o alerta democrático nos Estados Unidos. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, acusou o presidente de agir como “um ditador” e prometeu recorrer à Justiça para barrar o que chamou de “intervenção autoritária e inconstitucional”.
O envio de mais de 2 mil soldados da Guarda Nacional foi autorizado por Trump no fim de semana, após confrontos com agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega), que iniciou uma operação de detenções em massa na cidade. Os atos, que começaram na sexta-feira (6), rapidamente se espalharam por outras localidades da Califórnia, com prisões e repressão violenta.
“Essa é uma afronta ao pacto federativo, uma tentativa de militarizar a dissidência e criminalizar o direito à manifestação”, afirmou Gavin Newsom no domingo (8), ao anunciar medidas legais contra a ordem federal.
Trump força repressão sem consultar autoridades locais
A Casa Branca não comunicou previamente o governo estadual sobre o envio das tropas. Segundo Newsom, a manobra é uma violação direta da autonomia dos estados, prevista na Constituição norte-americana. “O que vemos não é liderança presidencial, é o uso político do medo para impor controle”, afirmou.
A medida também reacende o debate sobre o uso da Lei de Insurreição, instrumento legal que permite o envio de forças militares para conter distúrbios civis. Trump já havia ameaçado ativá-la em 2020, durante os protestos por justiça racial após o assassinato de George Floyd, mas foi contido na época pelo então secretário de Defesa, Mark Esper.
Desta vez, sem freios internos, o presidente age com respaldo total do aparato federal.
Califórnia desafia intervenção com ação judicial
Newsom anunciou que a Procuradoria do Estado da Califórnia já prepara um recurso judicial emergencial para impedir o avanço das tropas e exigir a retirada das forças federais. A ação pode abrir precedente para outros estados que enfrentam tensões semelhantes com o governo Trump.
A ofensiva do presidente ocorre num momento em que o Partido Republicano radicaliza seu discurso anti-imigração às vésperas das eleições legislativas de novembro. Na prática, Trump busca transformar a repressão em ativo político para mobilizar sua base mais conservadora.
“Não se trata de segurança pública, mas de intimidação e propaganda. A Califórnia não será palco de autoritarismo,” declarou Newsom.
Protestos ganham força diante da militarização
No sábado (7), a repressão escalou. Agentes do ICE e da Patrulha de Fronteira, armados com balas de borracha e gás lacrimogêneo, entraram em confronto com manifestantes na cidade de Paramount. Faixas com frases como “Nenhum ser humano é ilegal” foram arrancadas à força, e ruas inteiras foram cercadas.
Dez pessoas foram presas em Los Angeles, enquanto em San Francisco, outras 60 manifestações terminaram com detenções arbitrárias. Cenas de brutalidade policial viralizaram nas redes, gerando uma onda de solidariedade com os imigrantes.
As forças federais agiram com ampla liberdade, ignorando protocolos locais de contenção de distúrbios e agravando a tensão social em bairros de maioria latina e asiática.
Trump radicaliza discurso e desafia governadores
Em sua conta na rede social Truth, Donald Trump acusou Newsom e a prefeita de Los Angeles de “fracassarem na missão de proteger os cidadãos” e ameaçou intervir diretamente “com ou sem autorização local”.
A secretária de imprensa da Casa Branca reforçou a retórica de confronto ao declarar que “os democratas estão abrindo mão da lei e da ordem para agradar extremistas de esquerda”. A fala ecoa os manuais da criminalização da imigração como estratégia de campanha eleitoral.
Trump transforma o sistema migratório em campo de guerra simbólico, associando dissidência a desordem e reforçando o imaginário da “ameaça estrangeira”, mesmo que isso signifique violar os fundamentos do federalismo norte-americano.
O Carioca Esclarece
Por que a intervenção federal em Los Angeles é considerada ilegal por Gavin Newsom?
Porque não houve consentimento estadual prévio, como exige a Constituição. O pacto federativo dos EUA garante autonomia dos estados para gerir a segurança interna, exceto em casos extremos, o que não se configura neste contexto.
Donald Trump pode usar a Lei de Insurreição novamente?
Sim, ele pode tentar. Mas o uso da Lei de Insurreição depende de justificativa legal sólida e pode ser barrado judicialmente. Em 2020, Trump recuou por pressão interna. Em 2025, o contexto é mais radicalizado, e há menos contenções institucionais.
Essa ação pode afetar as eleições legislativas de novembro?
Sim. Trump aposta na radicalização para mobilizar sua base. O confronto com governadores democratas como Gavin Newsom o ajuda a sustentar uma narrativa de “presidente forte” diante da “ameaça do caos”, mesmo que à custa da legalidade.