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Saiba quem é o brasileiro que comanda a Interpol

Valdecy Urquiza rompe hegemonia global, assume o comando da Interpol e reforça papel da PF no combate ao crime político

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

5 de junho de 2025 – Lyon, França
Pela primeira vez em mais de cem anos de história, a Interpol — maior organização policial internacional do mundo — é comandada por um representante de um país do Sul Global. O brasileiro Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal, assumiu em novembro de 2024 o cargo de secretário-geral da entidade, em um movimento que rompe a hegemonia de países do Norte e simboliza a ascensão institucional do Brasil no sistema multilateral de segurança global.

A nomeação de Urquiza, celebrada como conquista geopolítica por Brasília, ocorre em um momento de alta tensão política. Nesta mesma quinta-feira (5), a Interpol incluiu a deputada Carla Zambelli (PL) na lista de difusão vermelha, após solicitação da Polícia Federal e decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A bolsonarista, condenada por crimes digitais e foragida no exterior, tornou-se o mais recente exemplo de uso da cooperação policial internacional em casos de crime político.

A coincidência entre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sede da Interpol, em Lyon, e a inserção de Zambelli na lista de foragidos mais procurados do mundo, expõe com clareza a nova face do multilateralismo repressivo: a criminalidade política não reconhece fronteiras, e o Brasil agora ocupa um lugar central no esforço global para combatê-la.


Uma virada geopolicial inédita

A ascensão de Urquiza à chefia da Interpol foi decidida na Assembleia-Geral da organização, em novembro de 2024, também em Lyon. O brasileiro derrotou candidatos do Reino Unido, da Zâmbia e do Paquistão, e recebeu amplo apoio do Comitê Executivo da entidade, composta por representantes de 195 países-membros.

O mandato de Urquiza é de cinco anos, com possibilidade de recondução. Desde sua posse, ele tem defendido uma plataforma focada na transparência, modernização tecnológica e no fortalecimento da cooperação transnacional contra crimes que ultrapassam fronteiras nacionais — como corrupção, narcotráfico, lavagem de dinheiro e desinformação em larga escala.

Segundo nota conjunta dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça, divulgada após a eleição, a vitória “reflete a prioridade atribuída pelo governo brasileiro ao combate ao crime organizado transnacional, que tem na cooperação internacional uma dimensão essencial”.


Um delegado forjado em cooperação internacional

Valdecy Urquiza nasceu em São Luís (MA), em 1981, e ingressou na Polícia Federal em 2004. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), tem especializações pela PUC-SP, IBMEC e instituições internacionais. É considerado uma das principais referências brasileiras em cooperação jurídica e policial internacional.

Entre 2015 e 2018, Urquiza comandou o Escritório Central Nacional da Interpol no Brasil, coordenando 127 pedidos de extradição e 45 operações conjuntas com a Europol. Foi também responsável por implementar o sistema I-24/7, que interliga informações policiais entre países-membros da Interpol, em todas as unidades da PF no país.

Sua trajetória inclui passagens estratégicas por cargos de alta complexidade:

  • Chefe da Divisão de Cooperação Jurídica Internacional da PF;
  • Diretor-Assistente da Diretoria de Crimes Organizados e Emergentes da própria Interpol, em Lyon;
  • Diretor de Tecnologia da Informação da PF;
  • Diretor de Cooperação Internacional entre 2021 e 2024, período em que liderou parcerias inéditas com o Caricom, no Caribe, e estabeleceu mecanismos de compartilhamento biométrico com países africanos.

Interpol como instrumento político

A vitória de Urquiza é também reflexo da nova inserção diplomática do Brasil sob o governo Lula. O apoio à candidatura do delegado foi articulado por meio de missões diplomáticas nos continentes africano e asiático, e contou com suporte logístico da Polícia Federal, do Ministério da Justiça e do Itamaraty.

A Interpol, embora formalmente neutra, tem se tornado peça-chave em disputas políticas internacionais. O caso de Carla Zambelli, incluída na lista vermelha após hackear sistemas do CNJ e falsificar mandados judiciais, mostra como a atuação da organização pode ser decisiva para impedir a impunidade de atores políticos que operam transnacionalmente.

Sob Urquiza, a expectativa é que a Interpol deixe de ser apenas uma rede passiva de alertas criminais e assuma um papel mais proativo no enfrentamento de ameaças híbridas — que combinam tecnologia, corrupção, milícias digitais e ataques às instituições democráticas.


Lula, Urquiza e o recado à extrema direita

A visita de Lula à sede da Interpol em Lyon, dias após a fuga de Zambelli, tem efeito simbólico poderoso: marca o alinhamento entre o governo federal e o novo comando da maior entidade policial do mundo. É também um recado direto à extrema direita, que historicamente busca escudos internacionais — como a cidadania italiana de Zambelli — para escapar de punições nacionais.

A cooperação policial internacional, que no passado serviu para perseguir opositores de regimes autoritários, agora é mobilizada para proteger democracias de ameaças internas articuladas com redes internacionais.


O Carioca Esclarece

O que é a Interpol e qual sua função?
A Interpol é a maior organização policial internacional do mundo, com 195 países-membros. Seu objetivo principal é facilitar a cooperação entre polícias nacionais no combate a crimes transnacionais, como terrorismo, tráfico de drogas, corrupção e crimes cibernéticos.

O que representa a eleição de Urquiza para o Brasil?
Significa uma ruptura na lógica de comando eurocentrada da Interpol. Pela primeira vez, um país do Sul Global lidera a organização. Isso amplia o protagonismo do Brasil nas agendas globais de segurança, justiça e combate ao crime digital e político.

A Interpol pode prender alguém como Carla Zambelli?
A Interpol não tem poder de prender diretamente. Ela emite alertas, como a lista vermelha, que serve como base para a prisão por autoridades nacionais de qualquer país membro. Com o alerta em vigor, Zambelli pode ser presa preventivamente fora do Brasil e extraditada.


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