Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, morreu nesta segunda-feira (21), às 7h35 (horário local), aos 88 anos, no Hospital Gemelli, em Roma. O Vaticano confirmou o falecimento e destacou a dedicação do pontífice aos mais pobres e marginalizados ao longo de sua vida.
Francisco havia sido internado em fevereiro, inicialmente por bronquite, que evoluiu para pneumonia bilateral. Teve alta em março após melhora, mas seguiu com saúde fragilizada. Ainda neste domingo (20), celebrou a missa de Páscoa, condenando a violência em Gaza e o antissemitismo.
Histórico de problemas de saúde
Desde jovem, Francisco enfrentava sérias questões de saúde. Aos 21 anos, perdeu parte do pulmão por conta de uma pleurisia. Em anos recentes, sofria de gripe frequente, problemas respiratórios e dores crônicas causadas por ciática.
Nos últimos dois anos, cancelou diversas agendas por sintomas gripais e inflamações pulmonares. Em 2023, tratou uma bronquite e passou por cirurgia de hérnia abdominal. Já em 2021, retirou 33 cm do cólon por causa da diverticulite. Em 2024 e 2025, sofreu quedas que resultaram em ferimentos no queixo e no braço.
Carta de renúncia estava assinada
O pontífice havia redigido uma carta de renúncia há mais de uma década, caso sua saúde impedisse o exercício do cargo. A informação foi revelada em 2022 pelo próprio Francisco em entrevista ao jornal ABC, na qual contou ter entregue o documento ao então secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone.
Da Argentina ao Vaticano
Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos. Ingressou na Companhia de Jesus em 1958 e foi ordenado sacerdote em 1969. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 1998 e foi nomeado cardeal em 2001 pelo Papa João Paulo II.
Manteve um estilo de vida simples, andando de metrô e evitando luxos mesmo como cardeal. Participou do conclave de 2005 e foi eleito papa em 2013, após a renúncia de Bento XVI.
Um papa latino-americano
Primeiro pontífice latino-americano e o primeiro jesuíta no cargo, Francisco escolheu seu nome em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e cuidado com os pobres. Seu papado foi marcado por posturas progressistas e enfrentamentos diretos a crises internas da Igreja.
Abertura e reformas
Durante seu pontificado, Francisco permitiu a bênção de uniões homoafetivas e defendeu a descriminalização da homossexualidade. Em 2022, promoveu mudanças na estrutura da Cúria Romana, permitindo que mulheres chefiem escritórios do Vaticano.
Também enfrentou o legado de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja. Em 2021, manifestou “vergonha” pela postura institucional diante das vítimas, após relatório da Igreja da França revelar mais de 216 mil casos desde 1950.
Defesa do meio ambiente
Lançou a encíclica “Louvado Seja” em 2015, convocando os católicos a agir pela preservação ambiental. Liderou o Sínodo da Amazônia e visitou o Brasil, em 2019, para discutir a crise climática com acadêmicos.
Condenação à guerra em Gaza
Mesmo evitando tomar lados, o Papa condenou bombardeios israelenses em Gaza. Após ataque do Hamas em outubro de 2023, o conflito resultou em 47 mil mortes palestinas, segundo a ONU. Francisco criticou a ofensiva: “Crianças foram bombardeadas. Isso é crueldade. Isto não é guerra”.
Comemorou o cessar-fogo entre Israel e Hamas, que encerrou um conflito de 15 meses com efeitos devastadores na região.
Conflito com Trump
Defensor dos direitos dos migrantes, o papa criticou políticas anti-imigração nos EUA e na Europa, inclusive as do ex-presidente Donald Trump. Em carta a bispos americanos, condenou deportações de imigrantes pobres e vulneráveis.
Trump reagiu com críticas, e membros do governo americano pediram que o pontífice se limitasse à religião. Em 2016, Francisco já havia afirmado que “quem só constrói muros e não pontes não é cristão”, o que gerou resposta dura do republicano.
