Genocida

Netanyahu é acusado de armar grupo ligado ao Estado Islâmico

Oposição denuncia criação de milícia salafista em Gaza com apoio de Israel para enfraquecer o Hamas

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Tel Aviv, Israel – 5 de junho de 2025 – Em uma denúncia explosiva que escancara as contradições da política de segurança israelense, o ex-ministro da Defesa e atual parlamentar da oposição, Avigdor Lieberman, acusou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de armar deliberadamente uma milícia jihadista com vínculos ideológicos com o Estado Islâmico (ISIS) na Faixa de Gaza.

Segundo reportagem do jornal Haaretz, o objetivo seria fomentar um novo grupo rival ao Hamas — tática que remete a estratégias históricas do próprio Netanyahu de dividir forças inimigas para facilitar o controle territorial.

A revelação provoca um novo terremoto político em Israel, em meio à ofensiva militar em Rafah e às crescentes denúncias internacionais contra o governo israelense por crimes de guerra e limpeza étnica. A denúncia de Lieberman, por sua vez, explicita uma aliança paradoxal: enquanto Israel afirma combater o extremismo islâmico, estaria financiando um grupo que compartilha ideologia com o ISIS.

Milícia jihadista teria apoio logístico de Israel

De acordo com fontes ouvidas pelo Haaretz, a suposta milícia está sendo organizada no sul de Gaza, mais especificamente na cidade de Rafah, sob a liderança de Yasser Abu Shabab, figura conhecida na região e com histórico de envolvimento em crimes comuns. Vídeos compartilhados em redes sociais mostram combatentes com fardamento completo, portando armamento leve, coletes balísticos e insígnias que simulam órgãos de segurança, como o selo “Serviço Antiterrorismo” em árabe e inglês.

O grupo, que teria origem no clã Hamasha, é descrito por Lieberman como uma organização criminosa oportunista que, nos últimos anos, teria adotado o salafismo jihadista como fachada ideológica. “É um clã criminoso fora da lei que agora se identifica com o ISIS”, declarou o parlamentar em entrevista à rádio pública Kan Bet.

Segundo ele, o governo Netanyahu está fornecendo fuzis de assalto e armamento leve diretamente à milícia, sob o pretexto de criar um contrapeso ao Hamas — que controla Gaza desde 2007. “Essas armas serão usadas contra nós. Netanyahu está brincando com fogo”, alertou Lieberman.

Tática antiga, consequências novas

A acusação remete a um modelo recorrente nas ações de Netanyahu, que teria usado estratégias semelhantes nos anos anteriores para enfraquecer tanto o Hamas quanto a Autoridade Nacional Palestina (ANP). Ao dividir o poder entre facções rivais, o premiê israelense teria buscado criar um cenário de instabilidade interna que favorece o controle militar contínuo de Israel sobre os territórios ocupados.

A novidade agora, porém, está na natureza do grupo envolvido: trata-se de uma milícia com inspiração no ISIS, com potencial explosivo não apenas para o conflito em Gaza, mas para a segurança regional como um todo. A presença de um grupo salafista radical armado por Israel representa um risco geopolítico ampliado, podendo inclusive ser explorado por atores como o Irã, o Hezbollah ou a própria Al-Qaeda como justificativa para novas escaladas no Oriente Médio.

Silêncio oficial e ambiguidade estratégica

O gabinete de Netanyahu, procurado para comentar, não negou a acusação diretamente. Limitou-se a uma nota ambígua: “Israel está trabalhando para derrotar o Hamas de várias formas, conforme recomendação de todos os chefes do sistema de segurança”. A ausência de uma refutação clara apenas reforça a suspeita de que a operação tenha respaldo institucional.

Internamente, a denúncia também agrava o isolamento político de Netanyahu, já pressionado por protestos de reservistas, críticas internacionais e o desgaste provocado pelas denúncias de genocídio no Tribunal Penal Internacional (TPI). No Knesset, parlamentares da oposição exigem a abertura de uma comissão de inquérito para investigar o uso de recursos do Estado na formação de milícias não oficiais.

Quem é Yasser Abu Shabab?

Figura obscura até recentemente, Abu Shabab emergiu como possível chefe dessa nova força armada informal. Em novembro de 2024, foi entrevistado pelo Washington Post e negou envolvimento em saques de ajuda humanitária, embora tenha admitido que seu grupo esteve presente nas ações. “Evitamos pegar alimentos ou suprimentos destinados às crianças”, disse na ocasião.

Membro de uma tradicional família beduína de Rafah, Abu Shabab já cumpriu pena em prisões do Hamas por supostos crimes comuns. Lieberman afirma que sua atual atuação é uma tentativa de reconfigurar sua imagem, agora sob um verniz ideológico salafista, mas com os mesmos interesses criminosos de sempre.


O Carioca Esclarece

Netanyahu está mesmo armando grupos ligados ao ISIS?
A acusação partiu de um ex-ministro da Defesa e parlamentar experiente, com acesso privilegiado a informações do sistema de segurança israelense. Embora o governo não tenha confirmado nem negado, a ausência de desmentido claro e os vídeos divulgados nas redes levantam fortes indícios de veracidade.

Por que Israel armaria uma milícia salafista?
A tática de fomentar inimigos internos para dividir o território não é nova. Ao criar um grupo rival ao Hamas, Netanyahu busca enfraquecer o controle unificado da resistência palestina. No entanto, ao escolher uma milícia alinhada com o ISIS, ele pode estar alimentando um monstro que escapa ao controle.

Qual o impacto internacional da denúncia?
Grave. Se comprovado, Israel poderá ser acusado de colaboração com terrorismo jihadista, o que minaria ainda mais sua narrativa de “guerra contra o extremismo” e enfraqueceria alianças estratégicas com países do Ocidente, sobretudo após o pedido de prisão feito pelo TPI contra Netanyahu por crimes em Gaza.

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