Visita Oficial

Lula visita Interpol com Zambelli na lista vermelha

Presidente discute crime transnacional na França enquanto bolsonarista foragida pode ser presa fora do Brasil

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

5 de junho de 2025 – Lyon, França – Em meio a uma nova fase da cooperação internacional contra crimes digitais e políticos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta quinta-feira (5) a sede da Interpol, na cidade de Lyon, em um gesto carregado de simbolismo: a presença do Brasil no comando da organização coincide com a inclusão da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL) na lista vermelha da entidade, após pedido da Polícia Federal e decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A agenda de Lula na França ocorre paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, mas a visita à Interpol marca um momento decisivo no fortalecimento do combate ao crime transnacional, em especial à desinformação, à sabotagem digital e ao uso de documentos falsos para fins políticos. Zambelli, que fugiu do Brasil dias após ser condenada a 10 anos de prisão, agora é alvo de um alerta internacional de captura.


Interpol sob comando brasileiro

A reunião de Lula em Lyon teve como anfitrião o brasileiro Valdecy Urquiza, que assumiu a Secretaria-Geral da Interpol em dezembro de 2024, rompendo com mais de um século de domínio europeu e norte-americano na direção da instituição.

Com atuação na Polícia Federal e formação em Direito pela Unifor, Urquiza se tornou a figura-chave na reconfiguração do papel da Interpol no século XXI. Ele defende o uso estratégico de ferramentas tecnológicas para rastrear redes ilícitas que atuam além das fronteiras nacionais — inclusive as digitais.

A presença de Lula ao lado de Urquiza reforça o posicionamento do Brasil como ator relevante na nova governança multilateral da segurança internacional. A Interpol, com sede na França e presença em 195 países, passou a desempenhar um papel central na perseguição de criminosos foragidos — inclusive políticos acusados de crimes contra instituições democráticas.


Zambelli na lista vermelha

A difusão vermelha emitida pela Interpol a pedido da PF e com autorização do STF coloca Carla Zambelli sob risco de prisão imediata em qualquer país signatário do acordo de cooperação. A parlamentar bolsonarista é acusada de invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de forjar documentos, entre eles um falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes, que teria sido inserido ilegalmente no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

A medida ocorre no contexto da fuga de Zambelli, que deixou o Brasil utilizando passaporte italiano, antes de ser formalmente notificada de sua condenação a uma pena de 10 anos por envolvimento em organização criminosa, falsidade ideológica e atentado contra o Estado Democrático de Direito.

Fontes próximas ao Itamaraty confirmam que a visita de Lula à sede da Interpol, embora agendada anteriormente, ganhou novas camadas de significado diante da tentativa de Zambelli de se escudar em acordos de dupla cidadania para evitar a justiça brasileira.


Cooperação contra o crime político

A articulação internacional entre a Interpol e o governo brasileiro, agora representada em alto nível por Lula e Urquiza, consolida um novo paradigma: o uso do sistema de alertas globais não apenas para crimes convencionais, mas também para crimes de natureza política e institucional, como os praticados por grupos bolsonaristas entre 2019 e 2023.

A inclusão de Zambelli na lista vermelha sinaliza que a impunidade extraterritorial deixou de ser regra. Além disso, o caso pode abrir precedentes para novos pedidos de cooperação contra outros políticos e empresários bolsonaristas que tenham se refugiado no exterior para escapar da responsabilização no Brasil.

Lula, que tem reforçado em seus discursos internacionais a necessidade de defesa da democracia e combate à extrema direita global, aproveitou a ocasião para destacar a importância da integração de países do Sul Global em organismos historicamente monopolizados por potências do Norte.


Macron e o apoio europeu

Antes da passagem por Lyon, Lula foi recebido em Paris com honras de chefe de Estado pelo presidente francês Emmanuel Macron, em mais um gesto simbólico de reaproximação entre Brasil e Europa. Os dois líderes caminharam de mãos dadas, numa cena emblemática que contrasta com o isolamento diplomático do Brasil durante o governo Bolsonaro.

Além do tema ambiental, central na Conferência dos Oceanos, Lula e Macron trataram do impasse em torno do acordo Mercosul-União Europeia, que permanece travado por resistências protecionistas e exigências ambientais do lado europeu.


O Carioca Esclarece

O que é a lista vermelha da Interpol e o que ela representa no caso Zambelli?
A lista vermelha (red notice) é um alerta internacional emitido a pedido de um país-membro para localizar e prender uma pessoa procurada, com base em mandado judicial. No caso de Carla Zambelli, isso significa que, ao ser identificada em qualquer país com acordo de cooperação, pode ser detida provisoriamente para futura extradição.

A visita de Lula à Interpol tem impacto direto na prisão de Zambelli?
Não diretamente, mas o gesto tem peso político e diplomático. Ao reforçar os laços com a Interpol e apoiar sua atuação, Lula sinaliza que o governo brasileiro está ativo no combate a crimes transnacionais — inclusive os de natureza político-digital praticados por membros da extrema direita.

Quais as implicações da liderança brasileira na Interpol?
A nomeação de Valdecy Urquiza fortalece o protagonismo do Brasil em agendas globais de segurança e justiça. Isso também amplia a capacidade do país de influenciar protocolos de combate à desinformação, crimes digitais e organizações transnacionais ligadas à corrupção ou ao autoritarismo político.

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