Los Angeles, EUA – 9.jun.2025 – A repressão do governo de Donald Trump às manifestações contra sua política migratória escalou neste domingo (8), quando a jornalista australiana Lauren Tomasi foi atingida por uma bala de borracha da polícia de Los Angeles enquanto fazia uma transmissão ao vivo para a emissora 9News.
O ataque ocorreu durante o terceiro dia de protestos intensos na Califórnia, e expôs mais uma vez a violência estatal contra a imprensa e o uso abusivo da força contra civis.
O incidente foi registrado em vídeo e viralizou nas redes sociais. Nas imagens, Tomasi tenta recuar da confusão quando é alvejada. Apesar do impacto, ela seguiu consciente e declarou estar bem logo após o disparo. Ao fundo, um manifestante reage indignado: “Vocês acabaram de atirar em uma repórter!”
A cena sintetiza o clima de tensão generalizada nas ruas dos Estados Unidos sob o segundo mandato de Trump, cuja ofensiva contra imigrantes reacende a militarização do espaço público e o cerceamento à liberdade de imprensa.
Militarização como resposta à crise
Os protestos em Los Angeles começaram na sexta-feira (6), quando agentes do serviço de imigração e alfândega (ICE) lançaram operações de deportação em bairros centrais, atingindo comunidades latinas e asiáticas. A repressão gerou confrontos imediatos e provocou uma reação em cadeia: manifestações espontâneas em frente a centros de detenção e edifícios federais.
Em resposta, Trump ordenou o envio de 2 mil integrantes da Guarda Nacional à Califórnia. Segundo comunicado da Casa Branca, a medida seria necessária para “restaurar a ordem” após “multidões violentas atacarem agentes federais”. A justificativa, no entanto, é contestada por vídeos que mostram protestos pacíficos sendo dispersados com balas de borracha, gás lacrimogêneo e prisões arbitrárias.
Na rede Truth Social, Trump fez declarações ameaçadoras. “A situação está péssima em Los Angeles. Tragam as tropas”, escreveu. Em seguida, reafirmou seu slogan autoritário: “Façam a América grande novamente. Prendam as pessoas com máscaras já”.
A retórica presidencial, marcada pelo desprezo à liberdade de expressão, reverbera nos braços armados do Estado — e atinge até mesmo jornalistas estrangeiros que testemunham o autoritarismo em tempo real.
Liberdade de imprensa sob ataque
Além de Lauren Tomasi, outro profissional da mídia foi ferido durante a cobertura dos protestos. O fotógrafo britânico Nick Stern foi atingido por uma bala de borracha de 14 mm na coxa enquanto registrava um confronto em frente a uma loja em Paramount. Ele sofreu hematomas e inflamação, mas não corre risco grave.
Organizações de imprensa internacionais e entidades de defesa dos direitos civis reagiram com indignação. Em nota, o Committee to Protect Journalists (CPJ) afirmou que “o uso de munição não letal contra profissionais da mídia em cobertura jornalística é uma violação direta da liberdade de imprensa e do direito à informação”. A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu uma investigação independente sobre o caso.
Apesar dos apelos, a postura de Washington tem sido de indiferença. O Departamento de Justiça ainda não se manifestou sobre os ferimentos causados aos jornalistas, nem sobre a conduta das forças de segurança locais.
O alvo político: imigrantes
O pano de fundo dos protestos é o recrudescimento da política migratória de Donald Trump, que promete realizar deportações em massa e reativar campos de detenção em escala nacional. A ofensiva inclui a reinstalação da política do “Remain in Mexico”, a construção de novas seções do muro na fronteira sul e o corte de vistos humanitários.
As ações têm sido especialmente dirigidas a comunidades vulneráveis e trabalhadores informais, que enfrentam perseguições, prisões e ameaças constantes. A criminalização dos imigrantes se tornou uma peça central da campanha republicana para as eleições legislativas de 2026.
A repressão policial, nesse contexto, não é apenas uma medida de “segurança”, mas um instrumento de guerra ideológica, voltado a intimidar tanto manifestantes quanto a cobertura jornalística crítica.
O Carioca Esclarece
Por que a polícia dos EUA usa balas de borracha em protestos?
Balas de borracha são classificadas como munição “menos letal”, mas seu uso contra manifestantes pacíficos é amplamente criticado por causar ferimentos graves e violar normas internacionais de direitos humanos. A ONU recomenda restrições severas a esse tipo de armamento.
Jornalistas podem ser alvejados em manifestações?
Pelo direito internacional, jornalistas têm proteção especial em contextos de conflito e protestos. Atacá-los, mesmo com armas não letais, constitui grave violação à liberdade de imprensa e pode configurar abuso de autoridade.
Qual é o impacto político desse episódio para Donald Trump?
Embora Trump mantenha apoio entre setores conservadores, a violência policial transmitida ao vivo desgasta sua imagem perante a comunidade internacional e reforça denúncias de autoritarismo. A repressão contra jornalistas pode alimentar novas investigações e desgastar aliados republicanos em ano pré-eleitoral.