30 de maio de 2025, Washington, Estados Unidos – O bilionário sul-africano Elon Musk, controlador do X (ex-Twitter), reapareceu em público nesta sexta-feira com um olho roxo visivelmente inchado durante um evento na Casa Branca, ao lado do presidente Donald Trump.
A aparição, em meio ao encerramento oficial de sua controversa atuação à frente do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), reacendeu debates sobre o papel do empresário na política dos Estados Unidos — e o limite cada vez mais difuso entre influência empresarial, espetáculo midiático e decisões de Estado.
Questionado por repórteres, Elon Musk afirmou com naturalidade que o hematoma teria sido causado pelo próprio filho, o pequeno X Æ A-Xii, de apenas cinco anos, fruto da relação com a artista Grimes. “Eu disse pra ele: ‘Vai e me dá um soco na cara’. E ele deu”, declarou, rindo, no Salão Oval. A cena, tão surreal quanto inquietante, foi acompanhada de brincadeiras do próprio Donald Trump, que se referiu ao menino como “o pequeno X” e afirmou que o garoto “realmente parece capaz de dar um soco no pai”.
A performance de sempre
Nada disso é acidental. Ao contrário: o hematoma, o nome impronunciável da criança, o riso fácil diante da violência simbólica – tudo compõe o roteiro de uma persona pública moldada para os holofotes e alimentada por excentricidades deliberadas. A encenação atinge seu ápice quando Musk resolve fazer piada com a política internacional, afirmando que “não estava em nenhum lugar próximo da França”, em alusão ao episódio em que a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, supostamente teria esbofeteado o marido, Emmanuel Macron, no último dia 26.
BREAKING 🚨 Donald Trump stuns Elon Musk by giving him a Key to the White House, a gift ❤️
— MAGA Voice (@MAGAVoice) May 30, 2025
Mainstream media will never show you how strong Trump’s and Elon’s relationship is
pic.twitter.com/VS1IHpshi1
No teatro de Washington, o show continua. Mas por trás das cortinas do burlesco, a simbiose entre o delírio autoritário de Trump e a agenda disruptiva de Musk permanece como alerta central da política global.
A escalada do poder excêntrico
Para além do olho roxo, o que assusta não é o soco de uma criança, mas o soco simbólico que figuras como Elon Musk desferem contra instituições democráticas sob o disfarce de inovação, liberdade de expressão ou paternidade divertida. O DOGE, por exemplo, foi uma iniciativa construída por Trump para “modernizar” a administração federal, mas acabou funcionando como espaço privilegiado para testes de influência de empresas privadas no coração do governo.
THANK YOU, ELON. 🇺🇸🇺🇸
— The White House (@WhiteHouse) May 30, 2025
"Elon's delivered a colossal change in the old ways of doing business in Washington… @ElonMusk's service to America has been without comparison in modern history." –President Donald J. Trump pic.twitter.com/5OD1Cdaeqy
Musk, com seus discursos erráticos, postagens conspiratórias e aproximações com figuras da extrema-direita, tornou-se não apenas um guru de algoritmos, mas um agente ativo da desinstitucionalização da política. É o CEO que governa por memes, cultua o caos como método e brinca com os próprios filhos como se fossem peças publicitárias — tudo sob o olhar cúmplice de um governo que se alimenta do mesmo cinismo.
X Æ A-Xii, o “anti-protocolo”
A criança em questão não é exatamente uma novidade nos círculos midiáticos. Em fevereiro de 2025, durante uma coletiva com Trump, o pequeno X ganhou manchetes ao interromper o presidente americano com frases como “você não é o presidente” e “cale a sua boca”. A cena foi tratada pela imprensa de direita como “fofa” e “espontânea”, mas evidenciou algo mais perturbador: o uso sistemático de cenas domésticas, familiares e infantis como artifícios de marketing político.
Com Elon Musk, não existe separação entre o privado e o público. Seus filhos, como seus foguetes, chips cerebrais ou threads inflamadas, são parte de um mesmo plano de engajamento contínuo.
President Trump presents @ElonMusk with a gold key to the White House for his service. 🔑🇺🇸 pic.twitter.com/jKAyLmkK0d
— The White House (@WhiteHouse) May 30, 2025
Uma linhagem de sucessores?
A relação de Musk com a paternidade também é marcada por um padrão de serialização de herdeiros. Atualmente, ele tem 14 filhos – sendo três com Grimes e outros três com a executiva Shivon Zilis, da Neuralink, com quem também anunciou recentemente o nascimento de Seldon Lycurgus, nome que mais parece ter saído de um enredo de ficção científica distópica do que de um cartório.
Aos poucos, o mundo presencia a constituição de uma dinastia tecno-autoritária, onde nomes, símbolos e memes formam uma linguagem de poder própria, que flerta com o delírio messiânico de outros impérios familiares — do clã Bolsonaro, no Brasil, à família Trump, nos Estados Unidos.
O marketing do hematoma
Ao transformar até um hematoma facial em espetáculo político, Elon Musk sinaliza mais uma vez que os limites da democracia estadunidense seguem corroídos por um jogo de aparências, no qual bilionários excêntricos e políticos populistas retroalimentam suas narrativas com doses de violência simbólica, improviso controlado e desinformação performática.
O “soco do filho” pode ser lido como piada para os desavisados. Mas, para quem observa o cenário com senso crítico, é apenas mais um capítulo da lenta naturalização do absurdo como estratégia de poder — e da substituição do debate público por memes, delírios e egos inflamados.