1º de junho de 2025, Rio de Janeiro (RJ) – O empresário Elon Musk reagiu com virulência neste sábado, 30 de maio, às denúncias publicadas pelo The New York Times, que o acusam de fazer uso contínuo e pesado de substâncias psicoativas como cetamina, MDMA e cogumelos alucinógenos ao longo do último ciclo eleitoral nos Estados Unidos. A resposta, como de costume, veio por meio de sua plataforma X, onde Musk disparou que o jornal estaria “mentindo descaradamente” e conduzindo uma “campanha de desinformação” contra ele.
A reportagem do Times, publicada na sexta-feira, se baseia em depoimentos de fontes internas ao círculo de Musk, além de evidências materiais, como uma imagem de uma caixa de medicamentos contendo ao menos 20 comprimidos por dia – entre eles, o estimulante Adderall, comumente utilizado no tratamento de TDAH, mas também conhecido por seus efeitos colaterais e potencial de abuso.
Given Elon Musk’s business track record, any drugs he’s taking should be put in the public’s drinking water.
— Whole Mars Catalog (@WholeMarsBlog) May 31, 2025
Excesso, negação e uma velha tática de desvio
O dono da Tesla e da SpaceX admitiu o uso de cetamina prescrita anteriormente, mas negou qualquer consumo continuado. O que se observa, porém, é a já familiar tentativa de Musk de manipular a narrativa pública: ele reconhece parcialmente os fatos para controlar os danos, mas nega sua extensão, ao mesmo tempo em que desacredita os veículos que ousam questioná-lo. O padrão é recorrente.
Segundo a reportagem do jornal nova-iorquino, o uso de substâncias por Musk ultrapassava a eventualidade e beirava o uso cotidiano. Fontes próximas ao bilionário relataram que a cetamina chegou a afetar órgãos internos, como a bexiga, um efeito colateral conhecido de quem abusa da substância por longos períodos. O Times também lembra episódios públicos que sugerem alterações de comportamento – entre eles, uma saudação nazista feita por Musk em 2024, ainda que não se tenha confirmado a associação direta com o uso de drogas nesse momento específico.
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Empresário ou figura política?
O caso transcende a esfera pessoal. Musk não é apenas um empresário excêntrico: é uma figura pública com acesso a informações sensíveis, contratos bilionários com governos e influência política direta. Em 2020, por exemplo, ele foi nomeado para o simbólico cargo de chefe do fictício Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), numa provocação institucional promovida pelo então presidente Donald Trump.
Na cerimônia de despedida do Salão Oval, Musk evitou comentar sobre o uso de substâncias psicoativas. O silêncio, agora quebrado, veio apenas após a matéria do Times atingir alcance global. Para além das declarações defensivas, a postura reativa do bilionário não oferece respostas convincentes – apenas mais ruído e confronto.
O império da negação
Acusar o New York Times de “mentira descarada” sem apresentar qualquer contraprova concreta é mais do que uma estratégia retórica: é uma tentativa de enfraquecer o jornalismo investigativo e consolidar a lógica da pós-verdade, na qual qualquer crítica pode ser reduzida a “narrativa inimiga”.
Não é a primeira vez que Musk recorre a esse expediente. Ao longo dos anos, ele atacou jornalistas, cientistas e reguladores que questionaram sua conduta ou as práticas de suas empresas. Já o X, plataforma que controla desde a compra do antigo Twitter, virou uma trincheira ideológica, onde discursos negacionistas, teorias conspiratórias e ataques à imprensa circulam sem freio.
Quem vigia os bilionários?
O episódio revela a precariedade dos mecanismos de fiscalização pública sobre indivíduos ultrarricos com poder transnacional. Enquanto empresas são obrigadas a prestar contas, bilionários como Musk usam sua fortuna e influência para moldar o debate público a seu favor, mesmo quando enfrentam acusações sérias como o uso reiterado de substâncias controladas.
A reportagem do Times não surgiu no vácuo. Ela se insere em um crescente questionamento global sobre a saúde mental, o equilíbrio emocional e a estabilidade de figuras que concentram poder econômico e tecnológico sem precedentes. Em tempos de avanço da extrema-direita nos Estados Unidos e de colapso institucional em diversas partes do mundo, a conduta de pessoas como Elon Musk importa – e muito.
Desinformação e manipulação digital
É simbólico que o desmentido de Musk tenha sido feito no X, a mesma plataforma que ele transformou em canal de propaganda pessoal e incubadora de teorias conspiratórias. O desmonte da moderação de conteúdo e o afrouxamento das regras de verificação deram lugar a uma avalanche de desinformação, que agora serve como escudo para seu criador.
Ao rebatê-la, Musk tenta matar o mensageiro e não a mensagem. Mas os fatos, mesmo soterrados por tweets furiosos, permanecem. E a imprensa crítica – como o The New York Times e também este Diário Carioca – não se curvará à pressão de magnatas digitais que tentam governar pelo clamor algorítmico.
A batalha pela verdade está apenas começando.