Fuga e constrangimento

Deputado italiano exige extradição de Carla Zambelli

Angelo Bonelli acusa bolsonarista de tentar usar cidadania para escapar de pena e cobra reação do governo da Itália

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Roma, Itália – 4.jun.2025 | A tentativa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) de usar sua cidadania italiana como escudo contra a Justiça brasileira provocou reação imediata no Parlamento da Itália. O deputado Angelo Bonelli, da coalizão Aliança Verde e Esquerda (AVS), protocolou nesta quarta-feira (4) um pedido formal ao governo italiano pela extradição de Zambelli, que está foragida após condenação no Supremo Tribunal Federal (STF).

O parlamentar também propôs uma mudança legislativa que permita revogar a cidadania italiana de condenados por crimes graves contra o Estado democrático, incluindo tentativa de golpe, incitação à subversão e crimes contra a humanidade.

Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelo STF por envolvimento em atos antidemocráticos. Após anunciar fuga para o interior da Itália, alegou ter direito à dupla cidadania e desafiou publicamente o ministro Alexandre de Moraes, insinuando que não poderia ser alcançada pela Interpol.


Parlamentar denuncia uso indevido da cidadania

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Bonelli foi direto:

“Não se pode usar a cidadania italiana para escapar de uma condenação. A Itália corre o risco de se tornar um paraíso para gente condenada.”

A frase não foi isolada. No ofício enviado aos ministros Antonio Tajani (Relações Exteriores), Carlo Nordio (Justiça) e Matteo Piantedosi (Interior), o deputado reforça que a permanência de Zambelli no país mancha a imagem da Itália diante da comunidade internacional e pode criar jurisprudência perigosa para outros extremistas de direita em situação semelhante.

A proposta de Bonelli vai além do caso específico da parlamentar bolsonarista. O documento pede que o Parlamento italiano discuta mecanismos legais para invalidar cidadanias obtidas por descendência quando usadas para obstruir decisões judiciais de países democráticos.


STF já condenou; mais ações estão em curso

A situação judicial de Carla Zambelli não se limita à condenação por incitar atos golpistas. Ela ainda responde no Supremo por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal, relacionados ao episódio em que perseguiu um jornalista armada em São Paulo, às vésperas do segundo turno presidencial de 2022. As penas somadas nesses casos podem ultrapassar 5 anos de prisão.

A fuga para a Itália foi interpretada por juristas e parlamentares brasileiros como obstrução de Justiça deliberada. A expectativa é que, com o pedido de Bonelli, o governo italiano seja pressionado a dar uma resposta institucional clara.


Caso reacende debate sobre vínculos de Bolsonaro com a Itália

A provocação de Bonelli não é inédita. Em março deste ano, o deputado questionou publicamente se a primeira-ministra Giorgia Meloni havia concedido cidadania italiana ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que também é réu por tentativa de golpe de Estado. À época, Bonelli classificou a hipótese como “gravidade inaudita”.

A eventual concessão de cidadania a figuras da extrema direita brasileira, segundo ele, configuraria cumplicidade política com ataques à democracia no Brasil, algo que setores da oposição italiana têm denunciado repetidamente.

No caso de Zambelli, o uso da cidadania como escudo jurídico não encontra respaldo na maioria das interpretações legais. A Itália não possui acordo de extradição com o Brasil para casos em que o réu é cidadão italiano nato. No entanto, especialistas apontam que a cidadania adquirida por jus sanguinis (direito de sangue), como é o caso da deputada, pode ser revista se comprovado o uso abusivo.


O Carioca Esclarece

Zambelli pode realmente evitar a extradição por ser cidadã italiana?
Em tese, a legislação italiana impede a extradição de cidadãos nacionais. No entanto, como Zambelli não é italiana nata, mas sim descendente, existe margem legal para que sua cidadania seja revista ou relativizada. O precedente depende de decisão política e jurídica do governo da Itália.

O que pode acontecer se a Itália negar a extradição?
Caso o governo italiano se recuse a extraditar Zambelli, o Brasil pode pedir que ela cumpra pena em solo europeu. Alternativamente, ela pode se tornar uma foragida internacional, com restrições severas de mobilidade e risco de prisão em outros países da União Europeia.

Há outros casos parecidos na história recente?
Sim. Casos de criminosos tentando se refugiar em países europeus com base em dupla cidadania não são inéditos. No entanto, o contexto político e a gravidade dos crimes – especialmente quando envolvem tentativas de golpe – tornam a situação de Zambelli particularmente delicada para as relações diplomáticas entre Brasil e Itália.

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