Portugal, Espanha e um clássico com peso histórico
8 de junho de 2025, Munique (Alemanha) – Portugal reencontra a decisão de uma grande competição de seleções, desta vez com um ingrediente inédito: um duelo direto contra a Espanha. A final da Liga das Nações da UEFA, marcada para este domingo, às 20h, marca a primeira vez em que as duas seleções ibéricas disputam um título entre si em competições oficiais de alto nível.
O palco é simbólico: a Allianz Arena, em Munique, Alemanha. Mas o favoritismo pende nitidamente para o lado espanhol. Atual campeã europeia e vencedora da edição passada da Liga das Nações, a Espanha chega invicta há 19 partidas e com apenas uma derrota nos últimos 28 jogos — em um amistoso irrelevante.
Do lado português, o desafio é mais do que técnico: é histórico. Portugal só venceu a Espanha uma única vez em partidas oficiais — no longínquo Euro 2004, com o gol de Nuno Gomes, em solo luso. Desde então, foram dez confrontos sem vitória. Um tabu desconfortável que carrega mais do que estatísticas: representa a constante frustração diante do vizinho mais vitorioso.
Espanha em modo máquina: fidelidade, naturalizações e domínio
A seleção comandada por Luis de la Fuente representa hoje o ápice da estabilidade e da modernização no futebol europeu. O time combina talentos emergentes como Lamine Yamal e Nico Williams com veteranos que, curiosamente, personificam dois fenômenos quase extintos: fidelidade a um único clube e naturalizações estratégicas.
Entre os fiéis estão nomes como o goleiro Unai Simón, que nunca atuou fora do Athletic Bilbao, e Martin Zubimendi, nascido e formado na Real Sociedad. Na frente, Lamine Yamal defende exclusivamente o Barcelona, enquanto Nico Williams tem trajetória toda vinculada ao Athletic Bilbao. Esses jogadores representam uma rara resistência ao mercado bilionário e rotativo das transferências.
Mas nem todos nasceram na Espanha. A dupla de zaga é formada por Dean Huijsen, holandês naturalizado, e Robin Le Normand, francês de nascimento. Huijsen vive na Espanha desde os cinco anos e recusou convocação dos Países Baixos para defender a seleção espanhola. Le Normand, por sua vez, joga na Real Sociedad desde 2016 e se naturalizou espanhol apenas em 2023.
Essa política de naturalizações cirúrgicas, somada ao investimento em talentos formados em casa, deu à Espanha uma profundidade técnica difícil de enfrentar. Comandados por um meio-campo onde Pedri dita o ritmo e Zubimendi assegura o controle defensivo, os espanhóis formam um time coeso, pragmático e letal.
Portugal tenta repetir 2019 e apagar trauma histórico
Portugal venceu a primeira edição da Liga das Nações, em 2019, com brilho de Cristiano Ronaldo e companhia. Agora, cinco anos depois, retorna à decisão tentando repetir o feito — mas com outro elenco, outro técnico e um adversário historicamente indigesto.
A seleção de Roberto Martínez, embora tecnicamente qualificada, ainda não convenceu contra grandes adversários. O histórico recente contra a Espanha é um lembrete constante dessa limitação. Em onze jogos oficiais, apenas uma vitória. E nos demais, predominância absoluta dos espanhóis.
Portugal conta com uma geração talentosa, mas que ainda busca afirmação nos momentos decisivos. A partida deste domingo é mais do que uma final: é um teste de maturidade, identidade tática e capacidade de superação diante de um dos esquadrões mais consistentes da atualidade.
O Carioca Esclarece
Por que essa final é histórica?
Porque é a primeira vez que Portugal e Espanha se enfrentam em uma final de competição oficial entre seleções principais. Até então, os encontros se davam apenas em fases anteriores de torneios.
Por que a Espanha é considerada favorita?
Além do longo histórico de invencibilidade, a Espanha é a atual campeã europeia e possui uma equipe tecnicamente equilibrada, com jovens em ascensão e jogadores experientes. O retrospecto contra Portugal também pesa: 10 vitórias em 11 jogos oficiais.
Quais são os destaques fora do comum na seleção espanhola?
Além da fidelidade de jogadores aos clubes de origem, algo raro hoje em dia, a seleção conta com zagueiros naturalizados de fora da Espanha e jovens prodígios como Lamine Yamal, que aos 17 anos já é titular absoluto do Barcelona e da seleção nacional.
Portugal pode surpreender?
Sim, mas depende de um jogo taticamente perfeito e da inspiração de seus principais nomes no ataque. A história recente contra a Espanha joga contra, mas finais são imprevisíveis — e Portugal já sabe o que é levantar esse troféu.