Rio de Janeiro – Regina Duarte retorna à TV Globo nesta segunda (21), no programa Conversa com Bial, onde comenta a censura da novela Roque Santeiro durante a ditadura militar. A atriz lembra que, em 1975, integrou uma comitiva da emissora que tentou convencer autoridades em Brasília a liberar a exibição da novela.
O grupo, segundo ela, foi ignorado pelo então presidente Ernesto Geisel. A novela teve sua estreia barrada dias antes de ir ao ar. A emissora confirmou a suspensão por meio do Jornal Nacional.
Reencontro com o passado na Globo
Pedro Bial conduz a entrevista, que vem sendo divulgada como o “retorno” de Regina e um tributo à resistência cultural da época. Contudo, a abordagem gerou críticas, já que a atriz relativizou os crimes do regime quando integrou o governo Jair Bolsonaro em 2020.
Viagem frustrada e silêncio do governo
Regina relatou que a tentativa de diálogo com o governo militar foi ignorada.
“Ficamos bastante tempo numa sala esperando, não vinha ninguém falar com a gente. Foi esquisito”, disse.
Segundo ela, a ausência de resposta frustrou o elenco. A decisão de censurar a novela foi comunicada ao público em um domingo, pelo telejornal da emissora.
Contradições expostas
Em 2020, como secretária de Cultura, Regina minimizou a tortura e os assassinatos cometidos pela ditadura. Durante uma entrevista à CNN Brasil, ela interrompeu a conversa após declarações controversas sobre mortes na história da humanidade.
“Na humanidade, não para de morrer […] Por que as pessoas ficam ‘oh, oh, oh!’? Por quê?!”, afirmou.
Em seguida, comparou o regime militar aos genocídios de Stalin e Hitler e rejeitou qualquer tipo de responsabilização:
“Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas […] Por que olhar pra trás?”.
A Globo e a memória da ditadura
Nos anos 70, enquanto Regina era chamada de “namoradinha do Brasil”, a Globo transmitia atos oficiais da ditadura sem contestação. O programa atual, portanto, levanta debates sobre revisionismo histórico e proteção da imagem de figuras ligadas ao regime.
A emissora apresenta o reencontro como resgate afetivo, mas evita abordar de forma crítica o papel que desempenhou durante o período autoritário. A entrevista reforça o padrão da Globo de transformar momentos contraditórios em roteiros nostálgicos.