A trajetória de Stella Margarita pelo circuito artístico do Rio de Janeiro foi breve, mas profundamente marcante. Um recorte significativo de sua produção poderá ser contemplado na exposição “Stella Margarita: Fugas que se movem”, que seráinaugurada no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, no dia 17 de junho. A expressão “fugas que se movem” é da própria Stella. A partir dela, foi construído este retrato curatorial, um convite à imersão na força psicológica e humana de sua pintura.
Tendo como ponto em comum a investigação da dimensão humana e do movimento físico e emocional, foram selecionadas algumas de suas principais séries, entre elas Abraços, Álbum de Família e Fotogramas. A proposta desta individual é oferecer ao público uma imersão nessas fugas: uma visão de mundo singular, ancorada na dimensão humana mais do que na estética pura. Embora sua técnica fosse apurada, o verdadeiro motor de sua criação sempre foi o sentimento. Stella buscava traduzir emoções em imagem – por isso, dedicou-se intensamente a retratar olhares, gestos, abraços. Fundos marcantes, muitas vezes abstratos, revelam atmosferas emocionais. Os personagens parecem levitar, cair, escapar, ms como se trata de fugas que se movem, há sempre a possibilidade do reencontro, da volta.
Atualmente, sua obra pode ser vista na novela Vale Tudo (TV Globo), nas telas assinadas pela personagem Heleninha, interpretada por Paolla Oliveira.
“O movimento é um elemento central na linguagem de Stella. Ele se revela na pincelada livre e marcante, nos flagrantes de cenas cotidianas, e nas apropriações que fez do cinema e da performance, incorporando essas expressões a sua própria. Mas trata-se sempre de um movimento em fuga – fugas que se movem, fugas que retornam. É nessa constante busca e deslocamento que sua obra pulsa com uma densidade psicológica única. Muitas vezes perturbadora. Um convite à fuga, e ao retorno”.
Stella iniciou sua formação artística tardiamente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Produziu intensamente por cerca de uma década, combinando urgência criativa e consistência técnica. Reinventou-se diversas vezes; adotou novos nomes, novos projetos e abraçou uma nova missão artística. Ganhou prêmios, como o do IBEU, participou de uma residência em Leipzig, e integrou diversas exposições. Sua ascensão, no entanto, foi abruptamente interrompida em 2020 por um diagnóstico de ELA bulbar, uma forma agressiva e rara da doença. Frente à progressiva limitação motora, Stella impôs a si mesma uma nova resistência: espalhou em seu ateliê a frase “fuerza carajo” como um grito de vida. E seguiu criando. Em 2021, montou um estúdio improvisado em Genebra, onde considerava iniciar um tratamento experimental. Contudo, optou por voltar ao Rio de Janeiro, e transformou sua casa em espaço de produção.
Mesmo com a redução da motricidade e do tamanho dos quadros, a potência emocional se manteve intacta. Talvez como um gesto de ironia poética, suas últimas telas retratam cenas leves da vida familiar, cores quentes, ambientes externos, cotidianos ternos. Uma fuga, ou talvez uma síntese. Stella partiu precocemente em 2022, aos 66 anos de idade, deixando um legado artístico admirável.
Serviço
“Stella Margarita: Fugas que se movem”
Abertura: dia 17 de junho, às 19h
Visitação: de 18 de junho a 19 de julho de 2025
Horário: de segunda a sábado, das 10h às 19h (exceto feriados)
Local: Sala de exposições do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro
Endereço: Rua Visconde de Ouro Preto, 62 – Botafogo – RJ
Organização: Consulado Geral do Uruguai no Rio de Janeiro
Colaboração: Instituto Cervantes do Rio de Janeiro
Entrada gratuita
Classificação livre