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Incêndios? Só os da ficção, obrigada

Ainda que não seja exclusividade de 2024–oxalá fosse!, os múltiplos incêndios no centro-oeste e sudeste da última semana monopolizaram as conversas, ao menos durante o período em que, como em um truque de mágica, a fumaça fez desaparecer o horizonte e fez do sol nada mais que uma espinha inflamada no céu. Passada a surpresa, as autoridades começam a agir, investigando e prendendo alguns envolvidos, o mínimo, os menos poderosos e, claro, apenas aqueles localizados em regiões “ilustres” – o norte, Manaus, por exemplo, resiste em meio ao ar impraticável.

De imediato, esses incêndios causam destruição, mortes e agravam problemas de saúde, além de alimentar narrativas de esquerda e da direita que misturam dados verdadeiros e diversas teorias da conspiração (algumas até recicladas). Alguns até comparam a momentos bíblicos (apocalipse) ou cenários ficcionais, mas talvez pela proximidade e a vívida sensação de colapso climático seja difícil identificar a mesma beleza que vemos na ficção. E como são fartos os exemplos de obras que utilizam esse artifício!

Uma rápida busca mental e, no cinema, temos o trauma de todo bibliófilo: o incêndio em O nome da rosa (1986), que consumiu um sem número de livros seculares que não puderam ser salvos na túnica do monge. Em Volver (2006), de Almodóvar, um incêndio que aconteceu há alguns anos tem efeitos até os dias atuais. E o satisfatório cinema em chamas de Bastardos Inglórios (2009)? Em se tratando de novelas, casas e vilãs vivem pegando fogo, mas além delas abrigo de animais (Elas por elas), escola (Malhação: Viva a diferença), cinema abandonado (Totalmente demais), editora (Bom Sucesso), taberna (Além do tempo), bar (O outro lado do paraíso)… Um drástico contraste com a realidade da cinemateca, que teve parte do seu acervo destruído em 2022, e das novelas que foram perdidas no incêndio da Globo em 1976.

Em se tratando de obras e incêndios, no entanto, é impossível não mencionar Incêndios de Wadji Mouawad. A peça de 2003 virou filme em 2010 e, em 2014, estreava no Brasil, dirigida por Aderbal Freire-Filho tendo Marieta Severo como protagonista. No vai e vem entre o passado e o presente, o espectador acaba enlaçado pela realidade violenta (e seus efeitos) de guerra e, como se não fosse o suficiente, pelas situações intrincadas que a vida impõe. Do que resta, tudo é consumido no espanto, como num incêndio. E, claro, bem mais bonito que a realidade.

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Jaqueline Ribeiro
Jaqueline Ribeirohttps://www.diariocarioca.com/
Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos

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