Morte sempre rende algum nível de atenção que vai escalando conforme o posto, a situação e a personalidade do morto. Podemos elencar sem muito medo de errar que, em situações naturais, morte de líder político recebe alguma atenção; morte de líder político em exercício, bastante atenção; morte de Papa, muita atenção; morte de Papa carismático, uma senhora comoção. Assim foi o falecimento do Papa Francisco, ocorrido após a Páscoa: foi o assunto do dia, é o assunto da semana e vai ser o assunto até um pouco depois da eleição do novo Papa porque sempre há que se fazer comparações entre um mandato e outro.
Num primeiro momento, entre análises, críticas e lamentos (além de memes, que a internet não perdoa), muitos lembraram-se de “Conclave” (2024) (o que o fez se tornar o filme mais buscado no Prime video), outros tantos se lembraram de “Dois Papas”(2019), alguns se lembraram de “Papa Francisco perdoa Tom Zé” (2014) e houve quem ressaltou a importância de Laudato si’ (2015), a encíclica sobre meio ambiente, que, na Semana da Terra, no ano da COP no Brasil, em meio à crise climática, adquire uma singular importância.
Encíclicas podem ser entendidas como cartas escritas pelo Papa destinadas aos seus fiéis. Podem abordar questões dogmáticas ou sociais, mas sempre à luz do cristianismo. Assim também é a Laudato si’. Relembra as vezes em que o tema meio ambiente foi tratado pelos Papas anteriores sem esquecer ou menosprezar a contribuição de outras religiões e a ciência para a discussão, mas sendo claro ao apontar sua bússola.
Antes de buscar soluções dentro da sua fé, promovendo-a como um saber aberto às ideias diferentes, Francisco resenha temas essenciais nessa discussão como a poluição, a questão da água, a perda da biodiversidade (lembra da Amazônia) e a desigualdade, marcando uma posição da Igreja frente à atualidade que vemos e ao sistema capitalista estabelecido (e falido).
Se não há certeza sobre o nome do seu sucessor, os caminhos que percorrerá são ainda mais incertos. Não deve ser progressista, por óbvio, então, que ao menos não volte atrás em relação à questão ambiental. Um posicionamento a mais é sempre melhor do que um a menos. Amém, axé.