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Discurso e repressão

Tataloo, rapper iraniano, condenado à morte por blasfêmia

Ícone underground e crítico do regime, Amir Hossein Maghsoudloo enfrenta sentença capital após letras políticas em protestos pós–Mahsa Amini

TEERÃ, IRÃ – 8 de junho de 2025
O rapper Amir Hossein Maghsoudloo, conhecido como Tataloo, está condenado à morte no Irã por “insultar as santidades islâmicas”, acusação que se soma a delitos de “promoção da prostituição” e “corrupção moral”. Preso desde o fim de 2023, Tataloo foi inicialmente sentenciado a cinco anos de prisão por blasfêmia, mas teve sua pena elevada à pena capital após reavaliação pela Suprema Corte iraniana, confirmada em janeiro deste ano. A decisão é parte de um endurecimento do regime teocrático na esteira dos protestos massivos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, em 2022.


Da cena underground ao Tribunal Revolucionário

Tataloo emergiu em 2003 no cenário underground de Teerã, mesclando rap, R&B e rock a letras em persa que desafiavam normas sociais e criticavam tabus religiosos. Seu primeiro álbum, lançado em 2011 sem autorização oficial, o projetou como voz de uma juventude ávida por liberdade criativa. Apesar de não ter permissão para shows formais — requisito do Ministério da Cultura —, conquistou milhões de seguidores nas redes, os “Tatalities”.

Em abril de 2024, Tataloo compareceu ao Tribunal Revolucionário em Teerã para depor diante de juízes que reforçam a linha dura do regime. As câmeras registraram seu semblante desafiador, mas a corte foi implacável: além da morte, ele responde a acusações de “promoção de prostituição” — referente a vídeo-gravações com menores de idade — e uso de substâncias ilícitas.


Letras políticas após Mahsa Amini

A reviravolta no conteúdo de suas músicas se deu após o veredicto moral que levou à morte de Mahsa Amini, 22 anos, detida por “usar o véu de forma inadequada”. A onda de protestos que se seguiu levou Tataloo a incorporar em suas canções denúncias à teocracia, evocando sangue nas mãos dos líderes e defendendo a autonomia das mulheres sobre o próprio corpo.

Videoclipes exibiram cenas simbólicas: chadors rasgados, mesquitas vazias e multidões em marcha. Uma das faixas mais censuradas, “Jahanam” (“Inferno”), menciona diretamente guardas da moral e seus misseis de álcool contra a juventude. Tal postura ampliou sua popularidade entre manifestantes, mas também atraiu a ira do Conselho de Líderes, que considerou sua arte apologia à insurgência.


Manoeuvres políticas e brechas autoritárias

Em 2015, em movimento surpreendente, Tataloo gravou um videoclipe em apoio à Guarda Revolucionária e ao programa nuclear iraniano, gesto visto como tentativa de reconciliação com o establishment. Dois anos depois, endossou Ebrahim Raisi, linha-dura concorrente de Hassan Rouhani, na eleição presidencial — que Raisi venceria em 2021 e lideraria até sua morte em 2024. Essa ambiguidade deixou sua trajetória marcada por oscilações entre crítica e conivência.

Em 2018, perante novos processos e restrições, mudou-se para a Turquia, rota comum de artistas em busca de exílio criativo. Lá, manteve transmissões ao vivo e ampliou seu alcance no YouTube e Instagram — até ser banido da plataforma em 2020 por convida meninas menores a integrarem seu “time” de sexo. Seu passaporte expirou e, ao retornar a Teerã no fim de 2023, foi imediatamente preso.


Justiça religiosa e punição máxima

O Irã sustenta que ofensas ao sagrado não podem ser toleradas. Sob o Código Penal Islâmico, a blasfêmia contra o Alcorão, o Profeta ou símbolos religiosos é crime grave, com variações de pena que incluem a morte. A pena de Tataloo segue a interpretação literal do Sharia pelos tribunais religiosos.

Em janeiro de 2025, o juízo de apelação ratificou a sentença de morte, e a Suprema Corte confirmou a decisão sem admitir novos recursos. Autoridades anunciaram que o artista “está pronto para execução”, suspensa apenas por trâmites formais. Organizações de direitos humanos alertam para risco iminente de enforcamento, aproveitando o aniversario do regime em setembro para atos de “justiça divina”.


Repressão cultural e impacto nas ruas

Segundo a pesquisadora Holly Dagres, do Instituto de Política do Oriente Médio (Washington), “Tataloo é um caso emblemático: doutrina e política se entrelaçam para punir dissidência artística”. Seu julgamento e possível execução têm potencial de reacender protestos — a memória de Mahsa Amini segue viva, e as novas gerações rejeitam o autoritarismo moral.

No exterior, ONGs e artistas prometeram ações de solidariedade: petições na União Europeia e manifestações em frente a embaixadas iranianas. Mas a eficácia dessas pressões é limitada diante de um regime acostumado a ignorar censuras internacionais.


O Carioca Esclarece

Por que Tataloo foi condenado à morte?
Pelos tribunais islâmicos, ele “insultou as santidades” em letras e vídeos que criticam guardas da moral e líderes religiosos, crime enquadrado como blasfêmia, com pena capital no código iraniano.

A pena reflete só questões religiosas?
Não: envolve também acusações criminais (promoção da prostituição, corrupção de menores, uso de drogas) e motivações políticas. Suas músicas políticas após os protestos de 2022 foram o estopim para o endurecimento.

Existe chance de recurso ou clemência?
Tecnicamente, não mais. A Suprema Corte rejeitou apelações e o regime sinaliza execução iminente. Pressões internacionais podem atrasar, mas dificilmente mudarão a decisão final.

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