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Cláudio Castro afasta chefes do Bope após morte no Santo Amaro

Governador do Rio tenta conter crise após operação do Bope matar Herus Guimarães em festa no Morro Santo Amaro

RIO DE JANEIRO, BRASIL – 8 de junho de 2025 – A morte de Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, atingido durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, provocou uma reação imediata do governador Cláudio Castro (PL): neste domingo, ele anunciou o afastamento dos comandantes do Bope e do COE, além de 12 policiais militares.

A ação, ocorrida na madrugada de sábado, deixou ainda cinco pessoas feridas — uma delas segue internada.

A medida ocorre em meio à crescente pressão por responsabilização institucional em um estado onde operações policiais letais são comuns e raramente punidas.

A intervenção do governador Cláudio Castro tenta frear o desgaste político de mais uma incursão armada em área urbana que resulta em morte de inocente, mesmo com câmeras corporais e promessas de uso proporcional da força.


PM sob cerco após tragédia na Zona Sul

A operação do Bope ocorreu em plena madrugada, durante uma festa junina tradicional no Morro Santo Amaro, comunidade da Zona Sul carioca.

Segundo apurações iniciais, 18 agentes participaram da ação — dois grupos com nove integrantes cada —, mas apenas 12 teriam efetivamente trocado tiros. As circunstâncias do confronto permanecem nebulosas.

O office-boy Herus Guimarães, que trabalhava para sustentar o filho de dois anos, foi alvejado e morreu no local. Outros cinco moradores foram feridos, gerando revolta entre familiares e vizinhos.

“Estamos reunindo o pouco de força que a gente tem”, disse o pai de Herus, Fernando Guimarães, durante o velório no Cemitério São João Batista. “Vamos criar o filho dele com dignidade, porque é a única coisa que nos resta.”

Herus Guimarães Mendes, que foi morto a tiros no Morro Santo Amaro — Foto: Reprodução
Herus Guimarães Mendes, que foi morto a tiros no Morro Santo Amaro — Foto: Reprodução

Comando trocado e pressão por provas

O governador afastou o coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do Bope, e o coronel André Luiz de Souza Batista, chefe do Comando de Operações Especiais (COE). Assumem interinamente o subcomandante do Bope (até segunda-feira) e o tenente-coronel Alex Benevenuto Santos, ex-comandante do Bope e do Batalhão de Choque, no COE.

Castro se reuniu com os secretários de Segurança e da Polícia Militar na manhã deste domingo e afirmou que autorizou “o afastamento imediato dos responsáveis pela operação”. Tentando amenizar os danos políticos, o governador declarou ainda que todas as imagens registradas pelas câmeras corporais dos policiais serão entregues ao Ministério Público.

Cláudio Castro - Antonio Cruz/Agência Brasil
Cláudio Castro – Antonio Cruz/Agência Brasil

Crise recorrente e desgaste institucional

Casos como o de Herus Guimarães são recorrentes na política de segurança pública do Rio. Em 2021, a operação do Jacarezinho — que deixou 28 mortos — provocou reações internacionais, sem que houvesse responsabilização. A promessa de controle pelo uso de câmeras corporais não tem impedido ações com vítimas civis.

A corregedoria da Polícia Militar e a Polícia Civil já abriram inquéritos, mas os resultados desses procedimentos raramente chegam à Justiça com denúncia formal. As investigações costumam esbarrar em depoimentos contraditórios, ausência de perícias conclusivas e blindagem corporativa.

Neste contexto, o afastamento dos comandantes não representa necessariamente uma inflexão na política de segurança de Cláudio Castro, que desde o início do mandato reforça o discurso de guerra contra o tráfico, mas sem freios legais efetivos.


Discurso de luto e tentativa de contenção

Em nota divulgada nas redes sociais, o governador afirmou estar “triste e indignado” com a morte de Herus e expressou solidariedade aos familiares.

“Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta”, escreveu. A publicação foi feita enquanto o corpo do jovem era velado.

Críticos da política de segurança afirmam que esse tipo de resposta — baseada em afastamento temporário — busca conter protestos e denúncias de abusos, sem reformar a estrutura que permite operações mal planejadas em áreas densamente povoadas.


O CARIOCA ESCLARECE

O que diferencia esta operação das demais em áreas periféricas?
A principal diferença é o local: o Morro Santo Amaro está na Zona Sul do Rio, cercado por bairros de classe média e cobertura jornalística mais próxima. Operações em favelas da Zona Norte ou Oeste, mesmo com mais mortos, costumam receber menos atenção. Isso evidencia o racismo estrutural e a seletividade da comoção pública.

As câmeras corporais podem levar à responsabilização?
Em tese, sim. Mas, na prática, há recorrentes problemas: falhas nos equipamentos, ausência de gravação nos momentos cruciais e resistência interna na PM. Sem pressão institucional, essas imagens muitas vezes desaparecem ou são desconsideradas. A promessa de “entrega total” ao Ministério Público precisa ser acompanhada por monitoramento externo independente.

Cláudio Castro pode ser responsabilizado juridicamente?
É improvável no curto prazo. Como chefe do Executivo estadual, ele tem poder sobre a segurança pública, mas costuma se escudar na hierarquia da PM para alegar que não autorizou diretamente a operação. No entanto, o padrão recorrente de letalidade policial pode embasar ações no campo internacional, especialmente se houver mobilização de organizações de direitos humanos.

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