Belém, Brasil – 7 de junho de 2025 – A menos de seis meses da Conferência da ONU sobre o Clima (COP-30), que será realizada em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um recado direto ao colega norte-americano Donald Trump: se até o último momento o republicano não confirmar sua presença, ele mesmo fará o convite, por telefone.
“A COP é aqui no Brasil. Vamos discutir esse negócio”, disse Lula durante coletiva em Paris, onde participa de eventos diplomáticos relacionados à proteção dos oceanos.
A provocação pública não é apenas uma tentativa de garantir a participação da maior economia mundial na COP-30. Trata-se também de um gesto calculado que confronta a postura negacionista de Trump e reforça a pretensão do Brasil de liderar a agenda climática internacional — ainda que sob múltiplas contradições internas.
EUA sob Donald Trump: recuo ambiental e diplomático
A fala de Lula ocorre dias após a confirmação de que o governo Trump, reempossado em janeiro, desmantelou formalmente o departamento do Departamento de Estado responsável pela diplomacia climática. A decisão intensificou as críticas de que os Estados Unidos, sob a atual gestão, caminham para o isolamento nas negociações ambientais multilaterais.
Ao abandonar novamente o Acordo de Paris, o governo Trump não só se distancia de compromissos de redução de emissões, como compromete a credibilidade das negociações da COP-30, especialmente em temas como financiamento climático, transferência de tecnologia e reparações históricas por poluição.
“Os Estados Unidos poluíram muito e ainda poluem. Como é que não vão participar?”, questionou Lula com ênfase, aludindo ao peso histórico dos EUA como um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.
O paradoxo da liderança brasileira
A estratégia de Lula da Silva é clara: posicionar o Brasil como anfitrião protagonista de uma transição ecológica global. No entanto, a retórica encontra resistência crescente diante do apoio do próprio governo federal a projetos de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, região sensível e estratégica para a biodiversidade.
O licenciamento do projeto da Petrobras para perfuração de poços na bacia amazônica enfrenta críticas contundentes de cientistas, ambientalistas e comunidades indígenas. A ambiguidade entre os discursos de transição verde e o apoio a megaprojetos de petróleo ameaça comprometer a autoridade moral do Brasil às vésperas da conferência climática mais importante da década.
Recado à geopolítica climática
Mais do que uma cobrança individual a Donald Trump, a declaração de Lula escancara os impasses da governança climática global. Ao cobrar “os grandes governantes do mundo” a participarem da COP-30, o presidente brasileiro tenta reposicionar os fóruns multilaterais como arenas legítimas frente ao crescente descrédito institucional que afeta organismos como a ONU, a OMC e o FMI.
“Vamos fazer um encontro separado de chefes de Estado dois dias antes, para aprofundar o debate”, anunciou Lula, em mais uma tentativa de reanimar o espírito multilateral. A proposta de uma pré-reunião entre líderes globais evidencia o esforço do Brasil para reconstruir pontes em um cenário internacional fragmentado por guerras, crises econômicas e negacionismos políticos.
O retorno da diplomacia direta
O gesto de Lula, ao dizer que fará ele mesmo o convite por telefone, ecoa sua tradição de diplomacia direta, baseada na construção pessoal de alianças políticas. A prática contrasta com o distanciamento tecnocrático que marcou boa parte das relações internacionais durante os anos Bolsonaro.
Ao trazer de volta a figura do “presidente negociador”, Lula tenta mostrar disposição em dialogar com adversários ideológicos em nome de um objetivo global. No entanto, não está claro se o gesto surtirá efeito sobre Trump, que desde o início do mandato tem demonstrado desprezo por qualquer pauta ligada à transição energética, mudanças climáticas ou justiça ambiental.
O Carioca Esclarece
Por que a presença de Donald Trump na COP-30 é tão importante?
A participação dos Estados Unidos é fundamental porque o país é historicamente o maior emissor acumulado de gases de efeito estufa e tem enorme influência sobre o financiamento internacional da transição energética. Sua ausência enfraqueceria acordos, metas e compromissos coletivos.
O Brasil tem autoridade para cobrar os EUA se também quer explorar petróleo na Amazônia?
Essa é a principal contradição da política ambiental brasileira. Embora Lula critique o negacionismo climático, seu governo apoia projetos petrolíferos que fragilizam os compromissos do país com a neutralidade de carbono e ameaçam biomas estratégicos.
Qual o impacto geopolítico da COP-30 ser realizada em Belém?
Realizar a cúpula em uma cidade amazônica tem forte carga simbólica. O evento projeta o Brasil como porta-voz do Sul Global e obriga os países centrais a debaterem a crise climática a partir de territórios que estão na linha de frente da devastação ambiental e social.