Brasília, 7 de junho de 2025 – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou neste sábado a extradição da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), atualmente foragida na Itália.
A medida vem após a confirmação unânime da condenação da parlamentar a 10 anos de prisão pelos crimes de falsidade ideológica e invasão de sistema informático do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em associação com o hacker Walter Delgatti Neto.
A decisão também transforma a prisão preventiva de Zambelli em prisão definitiva e comunica à Câmara dos Deputados a cassação imediata do mandato parlamentar.
O processo segue o trâmite formal previsto no tratado de extradição entre Brasil e Itália, tendo sido instruído com os documentos exigidos para solicitação ao Ministério da Justiça.
Delgatti permanece preso e Zambelli entra na lista da Interpol
A sentença condenatória foi tornada definitiva na sexta-feira, 6, com o rejeitamento unânime do recurso apresentado pela defesa. Com isso, não há mais possibilidade de reversão no âmbito criminal. Walter Delgatti, que recebeu pena de 8 anos e 3 meses, já estava detido preventivamente e permanecerá em regime fechado.
Zambelli, por sua vez, deixou o Brasil na semana passada e foi inserida na difusão vermelha da Interpol, mecanismo que mobiliza 196 países para localização e detenção de indivíduos procurados internacionalmente. A condição de foragida se agrava pelo fato de a parlamentar possuir dupla cidadania ítalo-brasileira, o que pode gerar obstáculos diplomáticos ao cumprimento imediato da extradição.
Cassação imediata e impasse político na Câmara
A cassação de Carla Zambelli foi formalizada pelo STF e comunicada oficialmente ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que deve apenas referendar a perda de mandato. A jurisprudência do Supremo estabelece que a condenação definitiva por crime doloso com pena superior a dois anos leva automaticamente à perda do cargo eletivo, conforme a Constituição.
A bancada do PL, partido de Zambelli, ainda não se manifestou oficialmente. Nos bastidores, no entanto, há temor de que o caso se torne um símbolo político da ruptura institucional entre bolsonarismo e Judiciário — tensão que se arrasta desde os atos golpistas de janeiro de 2023.
Versões em conflito: Zambelli nega e Delgatti acusa
Durante o julgamento, a defesa de Carla Zambelli sustentou que ela não teve qualquer envolvimento direto com a invasão dos sistemas do CNJ. A deputada afirma que Delgatti agiu por conta própria e que jamais autorizou qualquer ação ilegal.
O hacker, no entanto, declarou em juízo que atuou sob orientação expressa de Zambelli, que teria encomendado os ataques e fornecido informações privilegiadas para facilitar o acesso aos sistemas do Judiciário. A corte considerou os elementos de prova consistentes e respaldados em perícias técnicas.
Tratado Brasil-Itália: o que está em jogo na extradição
A extradição de brasileiros natos é vedada pela Constituição. No entanto, a nacionalidade italiana de Zambelli pode gerar controvérsia no processo. O tratado bilateral permite a extradição de nacionais desde que o país requerido (no caso, a Itália) não se oponha.
O Ministério da Justiça deverá encaminhar nos próximos dias o pedido formal, acompanhado da sentença, do mandado de prisão e da fundamentação jurídica. Autoridades italianas já foram notificadas por meio da cooperação internacional, e a tramitação agora depende da resposta oficial do governo de Roma.
O Carioca Esclarece
Zambelli pode escapar da extradição alegando cidadania italiana?
Sim. A Constituição italiana proíbe a extradição de seus cidadãos em alguns casos. O governo da Itália pode, portanto, rejeitar o pedido, o que criaria um impasse diplomático.
A cassação do mandato depende de votação na Câmara?
Não. Desde a decisão do STF no caso de Paulo Maluf, o Supremo passou a comunicar diretamente a cassação ao Legislativo. Cabe apenas à presidência da Casa executar a ordem.
O que torna esse caso emblemático para o STF?
A condenação de uma deputada bolsonarista por crimes digitais contra o Judiciário reforça a posição do Supremo no enfrentamento à desinformação e à sabotagem institucional. O processo representa uma linha-dura contra redes articuladas de ataque aos sistemas democráticos.