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Absurdos Cotidianos

Prefeita Patrícia Alencar é alvo de ataques após vazamento de vídeo intimo

Vídeo íntimo de Patrícia Alencar reacende hipocrisia sobre o corpo feminino na política e expõe machismo travestido de decoro

Marituba (PA), 6 de junho de 2025 – A prefeita de Marituba, no Pará, Patrícia Alencar (MDB), tornou-se alvo de um linchamento moral virtual após a viralização de um vídeo em que aparece dançando forró de biquíni, dentro de sua própria casa. A gravação, feita em um perfil privado no Instagram, foi rapidamente disseminada nas redes sociais, provocando uma onda de julgamentos que misturam moralismo seletivo, misoginia e censura à liberdade pessoal de mulheres que ocupam espaços de poder.

A repercussão foi instantânea: entre ataques sobre a “imagem institucional do cargo” e defesas inflamadas da prefeita, o episódio evidenciou como o corpo feminino ainda é politicamente policiado no Brasil — especialmente quando representado por mulheres não alinhadas aos estereótipos tradicionais da autoridade política.

Corpo feminino como alvo político

Não é a primeira vez que lideranças femininas são julgadas com critérios diferentes dos homens quando se trata de comportamento pessoal. Patrícia Alencar, de 37 anos, reagiu com firmeza à tentativa de desmoralização pública:

“Infelizmente, na sociedade em que vivemos, o corpo de uma mulher incomoda mais do que a corrupção, a ineficiência ou o descaso na política”, declarou em entrevista ao g1. “Quando um homem se diverte ou relaxa, é visto como autêntico. Mas, quando se trata de uma mulher, ela é julgada como se isso anulasse sua competência.”

A fala da prefeita expõe uma ferida crônica da democracia brasileira: a patrulha moral que recai sobre mulheres públicas, enquanto homens corruptos, omissos ou ineptos continuam intocados em seus privilégios. O que está em jogo não é apenas uma dança em ambiente privado, mas o incômodo social com a liberdade feminina — especialmente quando ela desafia símbolos de autoridade conservadora.

Uma trajetória que incomoda

Filha do sertão de Pernambuco, Patrícia Alencar nasceu em Bodocó e migrou para Marituba há 16 anos. Começou vendendo utensílios em feiras livres e chegou à política após atuar como empreendedora. Mãe de três filhos, iniciou um curso de Medicina, mas decidiu se dedicar à vida pública.

Em 2020, tornou-se a primeira mulher a comandar a prefeitura de Marituba, e foi reeleita em 2024 com expressivos 71,5% dos votos válidos. A liderança carismática e de base popular é acompanhada por mais de 830 mil seguidores no Instagram, tornando-a também uma figura pública de influência digital.

Esse histórico de superação, empoderamento e representatividade parece ter acirrado os ânimos dos críticos. Para parte do eleitorado mais conservador e da elite política regional, sua ascensão desconcerta por fugir dos moldes tradicionais. O episódio do vídeo, portanto, funciona como pretexto para deslegitimar sua autoridade — não por seus atos administrativos, mas por sua liberdade pessoal.

Moralismo seletivo e machismo estrutural

A acusação de “falta de decoro” lançada contra Patrícia carece de coerência. O vídeo não foi publicado por canais oficiais, tampouco buscou autopromoção ou propaganda política. Foi uma gravação íntima, vazada sem consentimento, em um contexto privado.

Mas o julgamento público recaiu unicamente sobre a prefeita — não sobre o vazamento indevido, nem sobre o desrespeito à sua privacidade. O padrão se repete: mulheres são cobradas por comportamentos que, em homens, são tolerados ou até celebrados como sinais de “proximidade com o povo” ou “espontaneidade”.



O caso guarda paralelos com o que ocorreu com outras lideranças femininas ao longo da história recente: Dilma Rousseff, criticada por sua postura firme em debates; Manuela D’Ávila, alvo de ataques familiares e misóginos; ou Marina Silva, frequentemente deslegitimada por sua origem pobre e evangélica. Em todos os casos, o que se busca controlar não é apenas a política — mas o corpo, a voz e o espaço que essas mulheres ocupam.

O embate entre autenticidade e patrulha moral

Entre os apoiadores de Patrícia Alencar, muitos viram no vídeo uma expressão de liberdade e humanização. “Ela representa a mulher real, que cuida da cidade, dos filhos e ainda se permite viver”, escreveu uma seguidora nas redes.

Mais do que isso: a autenticidade de uma liderança popular, que não se esconde atrás de formalismos ou distanciamentos institucionais, é o que garante a conexão de figuras como Patrícia com uma base eleitoral que reconhece nela uma representante legítima — e não um avatar da elite política.

O Carioca Esclarece

Por que o vídeo da prefeita causou tanta polêmica?
Porque expôs, mais uma vez, a hipocrisia de um sistema político e social que ainda impõe padrões de comportamento diferentes para homens e mulheres. A prefeita dançou de biquíni em sua casa, mas foi julgada como se tivesse cometido crime de responsabilidade. O moralismo seletivo age como instrumento de censura quando se trata de mulheres no poder.

O que está por trás das críticas ao “decoro”?
A ideia de “decoro” muitas vezes esconde o desejo de controle sobre corpos femininos e comportamentos não normativos. Críticos não apontam falhas administrativas, mas se incomodam com o fato de uma mulher ser livre, popular e dona da própria imagem. O termo vira código para disciplinamento político e social.

Casos semelhantes já ocorreram no Brasil?
Sim. Dilma Rousseff foi chamada de “desequilibrada” por mostrar firmeza. Manuela D’Ávila sofreu ataques por expor sua maternidade. Marina Silva foi deslegitimada por sua origem humilde. Há um padrão: quando mulheres fogem dos estereótipos, são punidas simbolicamente para que sirvam de exemplo e não desafiem o status quo.

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