Retrocesso Rejeitado

Brasileiros temem mais volta de Bolsonaro do que permanência de Lula

Segundo a Quaest, rejeição ao ex-presidente supera medo de Lula reeleito, mesmo com queda de popularidade do petista

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Brasília, Brasil – 5 de junho de 2025 – Apesar da queda contínua de sua aprovação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda é visto como uma opção menos temida do que seu principal adversário político.

Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (5), 45% dos brasileiros temem mais a volta de Jair Bolsonaro (PL) ao poder do que a reeleição de Lula em 2026. Apenas 40% dizem temer mais a permanência do petista.

Os dados revelam que, mesmo sob desgaste e pressão, Lula ainda é percebido como menos perigoso institucionalmente do que Bolsonaro, cuja gestão foi marcada por ataques ao sistema eleitoral, negacionismo durante a pandemia e tentativas de minar as instituições democráticas. A lembrança desses episódios parece pesar mais no imaginário da população do que os desgastes cotidianos do atual governo.


Lula enfrenta rejeição crescente, mas ainda inspira menos medo

A pesquisa também indica um paradoxo político. Enquanto a rejeição ao governo Lula bate recordes — beirando 60%, segundo a própria Quaest —, o medo de uma reeleição do presidente não supera o receio de um retorno do ex-capitão reformado. Isso sugere que, para uma parcela significativa do eleitorado, os defeitos do lulismo são mais toleráveis do que os riscos associados ao bolsonarismo.

Essa percepção é reforçada mesmo entre setores críticos ao governo. Entre os entrevistados que se identificam como “não lulistas, mas mais à esquerda”, 37% dizem que Lula não deveria tentar a reeleição. O número cai para 15% entre os que se declaram “lulistas/petistas”.

Apesar disso, 66% dos entrevistados afirmam que Lula não deveria concorrer novamente, o que revela cansaço com figuras tradicionais da política — inclusive no campo progressista. Ainda assim, essa rejeição à continuidade não se traduz automaticamente em apoio à direita, sobretudo quando o nome colocado é Bolsonaro.


Michelle lidera entre bolsonaristas; Tarcísio busca centro

Com Bolsonaro inelegível, a pesquisa Quaest também mapeou possíveis sucessores dentro da direita. O nome mais citado entre os bolsonaristas é o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, com 44% da preferência. Ela aparece à frente de Tarcísio de Freitas (17%) e de Eduardo Bolsonaro (10%).

Apesar da força simbólica entre os fiéis do bolsonarismo, Michelle ainda enfrenta limitações eleitorais em escala nacional. Fora do nicho conservador, sua aceitação é mais tímida, e ela permanece dependente da transferência de votos do marido.

Tarcísio de Freitas tenta se posicionar como uma alternativa viável no espectro da direita tecnocrática, com maior apelo ao empresariado e ao eleitorado urbano conservador. No entanto, sua identidade ainda está fortemente associada ao bolsonarismo, o que dificulta sua afirmação como nome autônomo.


Direita fragmentada e sem liderança clara

O levantamento mostra que a direita segue fragmentada e órfã de uma liderança legítima. Entre os eleitores que não se declaram bolsonaristas, Michelle e Tarcísio aparecem empatados tecnicamente, com 17% e 16%, respectivamente. Essa disputa interna pela herança política de Bolsonaro deve se intensificar nos próximos meses.

Além disso, a indefinição de um projeto claro para além do “antipetismo” enfraquece a oposição. Sem Bolsonaro na urna e sem um discurso alternativo estruturado, a direita corre o risco de repetir 2022, apenas com novos nomes e menor adesão popular.

A popularidade residual de Bolsonaro também permanece frágil. Ele é réu em múltiplas ações no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentativa de golpe, falsificação de documentos públicos e uso da máquina para fins eleitorais. A lembrança desses escândalos parece ainda mobilizar o medo de sua volta, sobretudo entre mulheres, jovens e eleitores do Nordeste.


O Carioca Esclarece

Por que o medo de Bolsonaro ainda é maior que o de Lula, mesmo com a queda de popularidade do atual presidente?
Porque o bolsonarismo está associado a crises institucionais, desprezo pela ciência e ameaças à democracia. O eleitorado pode estar insatisfeito com Lula, mas enxerga Bolsonaro como um risco maior ao sistema.

Michelle Bolsonaro pode herdar o eleitorado do marido?
Ela tem apelo entre os fiéis do bolsonarismo, mas carece de experiência política, articulação partidária e base nacional. Fora da bolha conservadora, sua aceitação é baixa.

O que a pesquisa revela sobre o cenário eleitoral para 2026?
Que Lula enfrenta desgaste, mas ainda é competitivo. Já a direita não encontrou um nome que una seu campo sem carregar os excessos de Bolsonaro. A rejeição continua sendo a maior barreira à volta do ex-presidente.

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