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Deputados do PCdoB reforçam apoio político a Cuba

Fórum do Brics vira palco para aliança ideológica entre Brasil e Cuba, com respaldo aberto do PCdoB na Câmara

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Brasília, Brasil – 3 de junho de 2025. Em plena programação do 11º Fórum Parlamentar do BRICS, deputados do PCdoB usaram a tribuna institucional da Câmara para reafirmar publicamente seu apoio político ao regime cubano. Márcio Jerry (PCdoB-MA) e Daniel Almeida (PCdoB-BA) receberam a delegação oficial da Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba na Liderança do partido, destacando a “solidariedade permanente” do Brasil à ilha e defendendo o aprofundamento da cooperação interparlamentar.

A reunião reforça o elo ideológico entre parte da esquerda brasileira e o regime cubano, ignorando os sinais de colapso econômico e violações de direitos humanos que marcam o cotidiano da população cubana. O encontro ocorreu à margem das discussões principais do Fórum, mas foi tratado como um gesto político estratégico de reafirmação de alianças internacionais.

Cuba como símbolo e estratégia

A presença da vice-presidenta da Assembleia Nacional e do Conselho de Estado de Cuba, Ana María Mari Machado, acompanhada por integrantes de comissões econômicas e de relações internacionais, mostrou que a visita foi cuidadosamente planejada. Com a bênção do embaixador Adolfo Curbelo Castellanos, a delegação levou a Brasília um discurso alinhado ao que o PCdoB chama de “cooperação solidária” – um eufemismo recorrente para relações bilaterais com regimes autoritários sob o pretexto do enfrentamento ao imperialismo.

Para o PCdoB, a aproximação com Cuba não é apenas simbólica: é uma reafirmação da identidade política e do legado de solidariedade com governos anti-hegemônicos. Márcio Jerry, também vice-líder do governo Lula na Câmara, exaltou a visita como “honrosa” e reiterou a posição do partido em defesa do modelo cubano, numa tentativa de reposicionar o partido como ponte entre a esquerda latino-americana e os projetos alternativos ao capitalismo global.

BRICS como palanque de geopolítica alternativa

O 11º Fórum Parlamentar do BRICS foi oficialmente convocado para discutir temas como desenvolvimento sustentável e integração multilateral. Mas para a ala mais ideológica do Congresso, o evento serviu de vitrine para reatar laços com governos fora do eixo ocidental e construir narrativas paralelas ao discurso dominante em fóruns internacionais.

A delegação cubana, embora não faça parte oficialmente do bloco BRICS, foi tratada com status diplomático pelos parlamentares do PCdoB. O objetivo do gesto é claro: inserir Cuba, ainda que informalmente, no tabuleiro de influência do BRICS, aproveitando o momento de expansão do bloco e o enfraquecimento das barreiras geopolíticas tradicionais após o enfraquecimento da ordem liderada pelos EUA.

Silêncio estratégico sobre repressão

A narrativa da “solidariedade” esconde uma realidade incômoda: a escalada autoritária do governo cubano. Nenhuma menção foi feita à repressão a manifestações, à criminalização de dissidentes ou à crise humanitária que força milhares a deixarem o país. A omissão deliberada revela o custo político de manter alianças ideológicas em detrimento de princípios democráticos.

O PCdoB, que já teve mais influência dentro do Congresso, parece apostar na retórica internacionalista como uma forma de se manter relevante em um cenário político fragmentado. Ao exaltar Cuba sem qualquer crítica, assume um papel de defesa incondicional de um regime que vive de subsídios, controle da mídia e perseguição política.

Cooperação ou nostalgia revolucionária?

O discurso oficial do encontro fala em “cooperação interparlamentar”, “integração solidária” e “desenvolvimento conjunto”. Mas, na prática, o encontro foi mais um ato de reafirmação da nostalgia revolucionária que ainda move parte da esquerda brasileira. O conteúdo concreto da reunião não foi divulgado, nem houve detalhamento sobre projetos específicos em tramitação que envolvam Cuba e Brasil.

O que se viu foi um gesto político de reafirmação de identidade. Em um Congresso onde o centrão dita as regras e a extrema direita tenta monopolizar o discurso nacionalista, o PCdoB escolhe mirar para fora – e para trás –, ancorando-se em símbolos que ainda comovem sua base histórica, mas que dizem pouco ao novo eleitorado brasileiro.

Oposição em silêncio, Planalto de olhos fechados

Nem a oposição reagiu com veemência ao gesto, nem o governo Lula se posicionou oficialmente sobre o encontro. Essa omissão revela como o debate sobre política externa no Brasil ainda é restrito a nichos ideológicos, sem ganhar fôlego como pauta nacional. A aproximação com Cuba continua sendo tratada como um assunto de bastidor – quando deveria ser debatida à luz do interesse público e dos compromissos democráticos assumidos pelo Brasil no cenário internacional.

Enquanto isso, parlamentares do PCdoB seguem ocupando espaços institucionais para reforçar alinhamentos que, embora simbólicos, moldam a forma como o Brasil se posiciona diante de regimes que desprezam a pluralidade política e a liberdade de imprensa.

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