Brasília, Brasil – 3 de junho de 2025. O governo Lula anunciou nesta terça-feira um aporte de R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), com o objetivo declarado de reforçar o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia Legal. O valor será utilizado em 60 meses, financiando infraestrutura militarizada e tecnologia de vigilância ambiental – incluindo helicópteros blindados, drones de alta precisão e novas bases operacionais dentro da floresta.
O anúncio ocorreu no Palácio do Planalto, durante evento alusivo ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao lado da ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Clima), do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e do chefe do Ibama, Rodrigo Agostinho, Lula firmou ainda decretos criando novas unidades de conservação federais no Paraná e no Espírito Santo. A medida reforça a estratégia do governo de mostrar protagonismo ambiental, especialmente diante da pressão internacional por resultados concretos no combate à devastação da Amazônia.
Vigilância armada e presença do Estado
A maior parte do investimento será canalizada para a ampliação da infraestrutura repressiva na floresta: helicópteros com proteção balística, bases aéreas em pontos estratégicos, helipontos e sistemas de monitoramento por drones. O governo justifica a militarização como resposta à escalada de crimes ambientais ligados ao garimpo ilegal, desmatamento empresarial e tráfico de madeira.
Segundo Marina Silva, os novos recursos do Fundo Amazônia são fruto da redução recente nas taxas de desmatamento. “Já evitamos lançar 450 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera”, afirmou a ministra. A cifra dobrou o valor disponível no fundo, que agora retorna ao Ibama, em tese, para reforçar o aparato estatal contra crimes ambientais.
Mas o discurso técnico esconde um problema mais profundo: a permanência da destruição ambiental não decorre da falta de helicópteros, mas da conivência institucional com grileiros, políticos locais e grandes proprietários de terra. A militarização da Amazônia, sem mexer nas raízes políticas da devastação, pode apenas trocar o controle do território sem mudar sua lógica de exploração.
Espírito Santo ganha reserva em área contaminada por crime corporativo
Um dos atos assinados por Lula criou a Área de Proteção Ambiental (APA) da Foz do Rio Doce, na divisa dos municípios de Linhares e Aracruz (ES). A APA, com 45.417 hectares terrestres e marinhos, tem valor simbólico: trata-se da mesma região afetada pelo rompimento da barragem da Samarco (Vale/BHP Billiton) em 2015 – um dos maiores crimes ambientais da história do país.
O novo status da região como unidade de conservação atende parcialmente a um acordo judicial e inclui a proteção de espécies ameaçadas, como a tartaruga-de-couro, além de promover atividades sustentáveis para comunidades pesqueiras e tradicionais. A ministra Marina Silva classificou a medida como um “reposicionamento histórico” e uma resposta à injustiça cometida em Mariana (MG).
Apesar do gesto, o caso Samarco segue sem punições exemplares e com reparações incompletas. A criação da APA é importante, mas chega dez anos após a tragédia, sem que os responsáveis tenham sido responsabilizados criminalmente.
Reservas no Paraná protegem araucárias e cultura faxinalense
No sul do país, o governo criou duas Reservas de Desenvolvimento Sustentável no município de Pinhão (PR), voltadas à preservação de florestas de araucárias – espécie ameaçada e símbolo do bioma da Mata Atlântica. As reservas também reconhecem o modo de vida dos faxinalenses, comunidades que criam animais soltos em áreas coletivas e dependem de espécies nativas como o pinhão e a erva-mate.
A inclusão da cultura faxinalense no plano ambiental federal representa um avanço simbólico e prático, ao reconhecer os saberes e modos de vida tradicionais como parte da solução para a crise ecológica. Ao contrário de políticas centralizadoras, essas reservas valorizam a gestão comunitária e descentralizada da terra.
Política ambiental em busca de legitimidade
As medidas anunciadas fazem parte de um esforço maior do governo Lula para se reposicionar globalmente como liderança ambiental. Decretos adicionais assinados nesta terça incluem a nova Estratégia Nacional de Biodiversidade, diretrizes para a proteção dos recifes de coral e a ampliação dos limites do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, na Serra do Mar.
Entretanto, a gestão ambiental do governo segue marcada por contradições: enquanto amplia reservas e reforça o Ibama, também patina em fiscalizações, libera obras contestadas e evita confrontar o agronegócio em temas estruturais. A destruição da Amazônia não é obra do acaso – é política de ocupação, com décadas de suporte empresarial, bancada ruralista e cumplicidade judicial.
A destinação dos R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia precisa ser acompanhada com lupa. Sem controle social, transparência orçamentária e repressão aos verdadeiros financiadores do desmatamento – que circulam entre Brasília e Nova York – o risco é alto de que helicópteros e drones virem apenas espetáculo ambiental para consumo internacional.