Herança tóxica

Centrão descarta Eduardo e aposta em Flávio para suceder Bolsonaro

Com Michelle e Eduardo descartados, ala fisiológica da direita vê no filho 01 um nome “moderado” para reciclar o bolsonarismo

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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Rio de Janeiro, 3 de junho de 2025 — A aliança entre a direita fisiológica e a extrema-direita no Brasil caminha para uma nova encenação eleitoral: Flávio Bolsonaro, senador pelo PL do Rio de Janeiro e filho mais velho de Jair Bolsonaro, desponta como o favorito do Centrão para disputar a Presidência da República em 2026. A movimentação, revelada por Bela Megale, d’O Globo, marca o reposicionamento do clã Bolsonaro no xadrez político, agora sob a benção de figuras pragmáticas que já descartaram as alternativas mais ruidosas — Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro.

O filho “moderado” de um extremista

Entre os caciques do Centrão, Flávio Bolsonaro é descrito como “moderado”, como se a mera ausência de arroubos ideológicos tornasse seu passado e alianças palatáveis. Trata-se, vale lembrar, do mesmo senador envolvido em um escândalo de rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), cujas investigações foram arquivadas após anos de manobras jurídicas e blindagem institucional.

Essa reabilitação artificial visa projetar Flávio como o rosto “dialogável” do bolsonarismo. A intenção é clara: manter vivo o projeto autoritário sob nova embalagem, com menos gritos e mais acordos de bastidor — exatamente o modus operandi que fez do Centrão o fiador de sucessivas aberrações institucionais.

Entre Michelle e Eduardo, um centrão sem moral

A disputa interna no clã Bolsonaro, agora intensificada, expõe mais do que rivalidades familiares: revela o esgotamento do bolsonarismo como projeto político coerente. Michelle Bolsonaro, cuja aceitação entre evangélicos é alta, já não convence a ala pragmática da direita, que teme sua inexperiência política. Já Eduardo Bolsonaro, símbolo da ala mais ideológica e alinhado a figuras como Steve Bannon, é visto como indigesto demais para alianças eleitorais amplas.

Flávio, então, aparece como o nome ideal para garantir a continuidade do bolsonarismo no que ele tem de mais útil aos setores conservadores: a mobilização emocional das massas e o antipetismo automático — sem os custos eleitorais do extremismo escancarado.

O Centrão reposiciona suas fichas

Segundo fontes do próprio bloco, pesquisas eleitorais já foram encomendadas para medir o desempenho de Flávio em diferentes cenários, inclusive contra Luiz Inácio Lula da Silva, que deve disputar a reeleição. A aposta é que o senador pode ampliar o eleitorado bolsonarista com um discurso mais “institucional” e, por isso, menos rejeitado por segmentos da classe média urbana que hoje flertam com a terceira via ou o abstencionismo.

O discurso da “página virada” no caso das rachadinhas é outro sintoma da amnésia seletiva do establishment. Ao arquivar o passado do senador, o Centrão não apenas ignora os indícios robustos de corrupção — como também sinaliza que a impunidade continua sendo moeda corrente na política brasileira.

Um legado radioativo

Enquanto Jair Bolsonaro permanece inelegível após sua condenação por abuso de poder político, ele atua nos bastidores como tutor do próprio legado. A escolha de quem irá “herdar” seu capital político — Flávio, Michelle ou Eduardo — é também uma disputa sobre qual versão do bolsonarismo prevalecerá: o espetáculo ideológico, a moral familiar ou o fisiologismo disfarçado.

Nada disso, no entanto, altera o fato de que o bolsonarismo segue como um projeto autoritário, profundamente marcado pelo negacionismo, pela violência simbólica e pelo desmonte institucional. Trocar o nome na urna não é mudar o projeto — é apenas maquiá-lo.

Um novo ciclo de chantagens

A estratégia do Centrão é evidente: repetir o roteiro de 2018, agora com menos fanatismo e mais negociatas. Ao preferir Flávio, os velhos articuladores do poder tentam apresentar uma versão polida de um projeto político que, no fundo, continua ameaçando as bases da democracia.

Em vez de confrontar o bolsonarismo em seus fundamentos — militarismo, desinformação, autoritarismo religioso e neoliberalismo excludente —, o sistema político tenta reciclar seus rostos. O risco é que, ao fazê-lo, legitime novamente uma lógica de destruição que já mostrou do que é capaz.

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