30 de maio de 2025, São Paulo (SP) – A Justiça Eleitoral cassou nesta quinta-feira (30) o mandato do vereador bolsonarista Rubinho Nunes, do União Brasil, por uso de desinformação durante a campanha de 2024 à Prefeitura de São Paulo. A decisão foi assinada pelo juiz Antonio Maria Patiño Zorz, que também decretou a inelegibilidade de Nunes por oito anos, após o político compartilhar em seu perfil no Instagram um laudo falso atribuído ao empresário e influenciador Pablo Marçal, que sugeria falsamente que Guilherme Boulos havia feito uso de cocaína.
A sentença escancara a prática sistemática de fake news como arma política da extrema-direita brasileira, emulando a cartilha bolsonarista de ataque à honra e tentativa de destruição de reputações públicas com base em falsificações.
Desinformação como estratégia eleitoral
A peça compartilhada por Rubinho Nunes — por 26 minutos, segundo ele próprio — apresentava um suposto exame toxicológico de Guilherme Boulos com resultado positivo para cocaína. O documento, porém, era grosseiramente fraudado: até o número do RG estava errado. A autoria do conteúdo é atribuída a Pablo Marçal, que também foi candidato na disputa municipal, e que protagonizou uma série de ações coordenadas nas redes sociais contra o líder do PSOL.
A decisão da Justiça enfatiza que, mesmo que o conteúdo tenha sido removido rapidamente, sua simples publicação representa grave violação à legislação eleitoral. “O compartilhamento do laudo falso divulgado em meio de comunicação social, o Instagram do próprio candidato, encerra em si mesmo conduta ilícita que ostenta a potencialidade de lesar o bem jurídico protegido, a legitimidade das eleições”, sentenciou Zorz.
O argumento da ignorância não convenceu o Judiciário
Tentando se eximir de responsabilidade, Rubinho Nunes alegou que não sabia da falsidade do laudo e que o conteúdo ficou publicado por pouco tempo. Também destacou que o Ministério Público Eleitoral não teria se manifestado expressamente pela sua inelegibilidade.
A tese, porém, não comoveu a Justiça. Para o magistrado, a divulgação de um conteúdo calunioso durante o período eleitoral não pode ser desconsiderada como “erro inocente”. O juiz apontou que qualquer agente político experiente deveria presumir a necessidade de checagem prévia antes de disseminar conteúdo sensível envolvendo um adversário. A desinformação eleitoral, frisou Zorz, representa um risco concreto à integridade do processo democrático.
Marçal, Rubinho e a máquina bolsonarista de difamação
A cassação de Rubinho Nunes coloca mais um prego no caixão da estratégia bolsonarista baseada em fake news — modus operandi recorrente de figuras como Jair Bolsonaro e seus aliados. A postagem de Rubinho seguiu o roteiro conhecido da ultradireita: documentos fabricados, acusação moral falsa, disseminação em redes sociais, deletar e depois alegar “erro” ou “desconhecimento”. O dano, claro, já está feito.
A proximidade de Rubinho Nunes com Pablo Marçal e com os núcleos digitais da extrema-direita paulista já havia sido apontada por pesquisadores e ativistas da mídia independente. Durante a campanha de 2024, diversos perfis coordenados circularam versões do falso laudo toxicológico, muitas vezes com edição amadora, buscando impactar emocionalmente os eleitores às vésperas do pleito.
O preço da mentira na política brasileira
A decisão da Justiça Eleitoral de São Paulo não apenas pune Rubinho Nunes, mas envia um recado claro a toda militância digital extremista: há limite jurídico para a manipulação de informação no Brasil. Se antes o bolsonarismo flertava com a impunidade sistemática no campo das fake news, a jurisprudência começa a se consolidar.
Mesmo que Rubinho ainda possa recorrer, sua inelegibilidade por oito anos o coloca fora da disputa municipal de 2028, frustrando planos pessoais e de grupo político. Mais que isso, revela o esgotamento de uma retórica política sustentada em ataques rasteiros e difamatórios.
A resposta democrática à desinformação organizada
A responsabilização de Rubinho é uma vitória pontual, mas significativa. Enquanto Guilherme Boulos lidera em São Paulo com um discurso programático e popular, figuras da ultradireita ainda investem em lama, memes e montagens. A Justiça, ao menos neste caso, atuou com firmeza para conter a degradação do debate público.
Mas não basta. A estrutura de disseminação de mentiras segue ativa, financiada e conectada com núcleos internacionais de desinformação. O caso de Rubinho Nunes precisa servir de alerta: sem regulação séria, educação crítica e ação coordenada das instituições, a democracia seguirá vulnerável à sabotagem digital da extrema-direita.